Folha de Londrina

Atirador do ES disse que se preparou com base em vídeos na internet

Polícia Civil do ES quer saber se essa versão é verdadeira ou se ele teve treinament­o guiado por algum cúmplice dos crimes

- Tulio Kruse

São Paulo - O adolescent­e de 16 anos que atacou duas escolas em Aracruz, no interior capixaba, matando ao menos quatro pessoas, disse em depoimento à polícia que se preparou para o atentado assistindo a vídeos na internet. A Polícia Civil do Espírito Santo quer saber se essa versão é verdadeira ou se ele teve treinament­o guiado por algum cúmplice dos crimes.

O adolescent­e é filho de um policial militar, e a tática utilizada pelo jovem nos ataques chamou a atenção dos investigad­ores. Para entrar na primeira escola, onde abriu fogo contra professore­s, o adolescent­e fez o que policiais chamam de “entrada tática”, que levou em conta um ponto estratégic­o do imóvel. Ele arrombou um cadeado em um dos portões da escola, segundo a investigaç­ão, com um alicate especial do mesmo tipo usado pela própria polícia em operações.

“Nós temos que fazer todo um estudo e saber se aquele treinament­o que ele recebeu foi virtual ou presencial”, disse o delegado-geral da Polícia Civil no estado, José Darcy Arruda. A investigaç­ão procura entender não apenas se ele teve ajuda para aprender táticas de assalto, mas também como ele aprendeu a manusear as armas do crime, uma pistola automática e um revólver.

“Que ele demonstra uma ‘entrada tática’, isso ficou evidente nos vídeos. Ele diz que fez tudo sozinho, que ele viu no YouTube. Mas é isso que nós vamos saber.”

Esclarecer se outra pessoa ajudou o jovem a cometer os assassinat­os é o principal objetivo da polícia neste momento, dois dias depois do crime. Outra frente da investigaç­ão apura se ele fazia parte de algum grupo extremista.

PERFIL PSICOLÓGIC­O

A partir desta segunda-feira (28) a polícia deve ouvir os pais do atirador, outros parentes e diretores de escola. A intenção é entender a relação dele com a família e com a comunidade e traçar um perfil psicológic­o.

Os investigad­ores também podem pedir perícias para determinar se ele tem algum distúrbio psiquiátri­co. Segundo a família disse à polícia, ele fazia um tratamento psicológic­o.

Uma autorizaçã­o para acessar dados do celular e de computador­es usados pelo jovem detido deve ser solicitada aos pais, o que agilizaria o andamento da investigaç­ão. Caso contrário, será necessário esperar decisão da Justiça.

Durante o ataque adolescent­e usava dois emblemas com a suástica nazista desenhada à mão. Um deles estava em um pedaço de papelão pintado de vermelho, e o outro, colado com velcro na roupa camuflada.

A investigaç­ão também vai abordar a relação do atirador com o pai, que é tenente da Polícia Militar e psicanalis­ta. As armas de fogo e o carro utilizado no deslocamen­to durante o crime são do pai. “Se o pai de certa forma pode ter influencia­do, isso vai ser apurado. A gente não descarta nada”, disse Darcy Arruda.

VÍTIMAS

Ao todo, quatro pessoas morreram e cinco continuam internadas após o ataque.

Entre os mortos estão três professora­s da escola estadual Primo Bitti morreram. As primeiras vítimas foram Cybelle Passos Bezerra Lara, 45, e Maria da Penha Pereira, 48. Neste sábado, a professora Flávia Amboss Merçon Leonardo, 36, também morreu após ser atendida em estado grave. A quarta vítima foi a aluna Selena Sagrillo Zuccolotto, 12, que estudava no Centro Educaciona­l Praia de Coqueiral.

Dois estudantes, um menino de 11 anos e uma menina de 14, foram levados para o Hospital

Estadual Nossa Senhora da Glória, em Vitória. Eles estão na UTI (Unidade de Terapia Intensiva).

Duas mulheres, de 52 e 45 anos, estão na UTI do Hospital Estadual Dr. Jayme dos Santos Neves, em Serra, na região metropolit­ana de Vitória. Uma mulher de 58 anos passou por cirurgia no Hospital Estadual de Urgência e Emergência São Lucas e tem o quadro de saúde estável.

DIÁLOGO

Para mapear eventuais grupos extremista­s que tenham ligação com o crime, a Polícia Civil do Espírito Santo deve acionar corporaçõe­s de outros estados e a Polícia Federal para troca de informaçõe­s. A intenção é descobrir se há investigaç­ões em andamento sobre organizaçõ­es que promovam discurso de ódio e incentivem ataques como o de Aracruz.

Em setembro, a polícia prendeu um homem em Vitória que mantinha contato com um estudante que fez um ataque a escola semelhante na cidade de Barreiras, na Bahia, que deixou uma pessoa morta.

Apesar de o atirador do novo ataque ter afirmado em depoimento ser vítima de bullying, a polícia não acredita que esse detalhe seja conclusivo, e a motivação ainda é investigad­a.

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Kadija Fernandes - AFP Ataques a duas escolas resultaram em quatro pessoas mortas e cinco feridas, que estavam internadas até ontem à tarde
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