18 Minas quer tradição queijeira como patrimônio da humanidade
O queijo minas artesanal é feito com leite cru, em pequenas propriedades, com produção de leite própria e em pequena escala
Belo Horizonte, MG Reconhecido nacionalmente pela tradição queijeira, o estado de Minas Gerais busca transformar o modo de fazer o queijo minas artesanal em patrimônio cultural imaterial da humanidade.
O primeiro passo está sendo dado com a apresentação da candidatura e dos queijos mineiros no encontro do Comitê Intergovernamental para Salvaguarda do Patrimônio Cultural Imaterial da Unesco, que acontece desde domingo (27), no Marrocos, com encerramento marcado para sábado (3).
No evento, foi montada uma exposição sobre o queijo minas artesanal e um workshop sobre os modos de fazer esse tipo de queijo, com degustação dos produtos, de acordo com José Ricardo Ozólio, presidente da Amiqueijo (Associação Mineira de Produtores de Queijo Artesanal). “Todo reconhecimento traz para a gente muita visibilidade. Só o fato de a gente estar pleiteando já nos deu muita visibilidade, e isso é importante, porque agrega valor e respeito ao produto e aumenta a busca por ele”, afirma.
O queijo minas artesanal é caracterizado por ser feito com leite cru, em pequenas propriedades, com produção de leite própria, em pequena escala e sem uso de maquinários industriais. Além disso, os modos de fazer são passados de geração em geração, mantendo tradições familiares na queijaria. Os únicos ingredientes utilizados são o leite cru, coalho, sal e o pingo fermento natural composto por bactérias lácticas, extraído na própria produção de queijos do dia anterior.
A busca pelo reconhecimento como patrimônio da humanidade é liderada pelo governo de Minas, com apoio de associações de produtores e do governo federal, por meio do Iphan (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional). O intuito da empreitada é gerar impactos econômicos tanto pelo aumento das vendas, quanto pela atração turística para as regiões produtoras.
O processo de reconhecimento, porém, ainda é longo. Após o evento no Marrocos, a candidatura precisa ser formalizada até o dia 30 de março de 2023.
O resultado final, com o reconhecimento ou não do pedido, demora cerca de dois anos para sair. Neste período, é necessário desenvolver um dossiê, justificando a busca pelo reconhecimento do patrimônio e apresentando as ações desenvolvidas para salvaguarda desse bem.
O documento é feito pelo Iepha (Instituto Estadual do Patrimônio Histórico e Artístico) e enviado para o Iphan, que protocola o pedido na Unesco. Segundo a professora Renata Costa, do
Instituto de Laticínios Cândido Tostes, os queijos de diferentes produtores possuem características distintas, que são influenciadas pelas especificidades do ambiente. “Isso vem muito da qualidade do leite cru, das características da alimentação da vaca, do clima, do solo, da altitude. Tudo isso influencia nas bactérias lácticas que vão estar no leite e que vão dar características especiais no queijo. As bactérias lácticas que vêm do pingo também vão dar essas características diferenciadas”, afirma ela.
Para Costa, o título de patrimônio da humanidade reforçaria o reconhecimento que o queijo minas artesanal já tem por parte da população brasileira. Atualmente, Minas tem dez regiões produtoras de queijo minas artesanal reconhecidas: Araxá, Campo das Vertentes, Cerrado, Serra da Canastra, Serra do Salitre, Serro, Triângulo Mineiro, Serra do Ibitipoca, Diamantina e Entre Serras da Piedade e do Caraça.
Segundo Costa, para que uma região seja reconhecida, é feito um estudo aprofundado sobre as condições do ambiente, as características do queijo, as formas de fabricação e os registros históricos das tradições repassadas entre gerações.