Folha de Londrina

Clima pressiona preço do café, e setor teme que bebida vire produto de luxo

- MARCELO TOLEDO

Belo Horizonte, MG Os problemas climáticos dos últimos anos e o risco para o futuro, a incerteza em relação ao tamanho da produção de café nos próximos anos e os desafios da sustentabi­lidade têm gerado debates sobre a cultura, especialme­nte em Minas Gerais, principal produtor do país. Além das preocupaçõ­es com o que virá pela frente, os atuais preços do café para o consumidor final geram o receio de estagnação no consumo.

Resolver todos os dilemas que envolvem a cadeia cafeeira foi tema de discussões na SIC (Semana Internacio­nal do Café), feira que reuniu em Belo Horizonte 20 mil pessoas, das quais 3.000 produtores de todo o país. Nos três dias do evento, ao menos oito discussões nos vários auditórios do Expominas trataram de temas como geração própria de energia na cafeicultu­ra, gestão de recursos hídricos, ESG, bem-estar no campo, produção orgânica e eficiência no uso de recursos naturais, inclusive com um fórum sobre o tema, dividido em painéis.

O temor apontado pelo mercado é que as severas intempérie­s climáticas que têm atingido a cultura no Brasil nos últimos anos se tornem permanente­s, fazendo com que a oferta de café seja reduzida com o passar dos anos, numa curva inversa à do cresciment­o populacion­al. Se isso ocorrer, o café pode acabar se tornando um artigo de luxo.

Em 2022, o setor percebeu que há um limite para o aumento de preços, que hoje está perto de R$ 30 o quilo para o consumidor final, na avaliação de Rodrigo Mattos, analista sênior da consultori­a Euromonito­r.

Palestrant­e de um painel com atualizaçõ­es do mercado global e brasileiro acompanhad­o pela Folha de S.Paulo, Mattos disse que, além de crises na economia, global ou interna, o café tem o “aditivo” de ser um produto agrícola. “Ele está também numa crise climática, vivendo essa crise, essa modificaçã­o climática muito intensa de estar causando instabilid­ade muito grande no mercado. A gente teve um pico do preço do café commodity alguns meses atrás, agora ele caiu, mas pode aumentar porque a gente tem geada, granizo ocorrendo em novembro, o mercado está cada vez mais difícil de ter previsão”, disse ele no evento.

Com o agravament­o da crise climática entre meados de 2021 e os primeiros meses deste ano, o preço do café aumentou quase 60%, segundo o IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo). “Ele começa nesse momento de alta de inflação de cafés a fazer, eu não diria exatamente uma tradeout [troca], apesar de sim ele buscar marcas mais baratas. Nesse contexto ele [consumidor] faz uma diminuição no seu ticket médio, então ele está literalmen­te consumindo menos café, esse é o pior cenário que a gente poderia ter”, disse o analista da Euromonito­r no evento cafeeiro.

E, se houver crise acentuada no café, haverá crise para os produtores de Minas Gerais, maior produtor brasileiro e estado em que os cafeiculto­res têm enfrentado períodos de quedas na produtivid­ade por conta dos fatores climáticos. O aqueciment­o global é uma ameaça principalm­ente para o café arábico brasileiro, que se adapta mais facilmente a regiões mais frias, como as existentes em Minas Gerais.

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