Folha de Londrina

A importânci­a jurídica do diálogo na inovação

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Aproveitan­do o espaço da coluna, destinado à inovação no agronegóci­o, gostaria de apresentar um olhar jurídico (um pouco diferente), pedindo atenção para dois pontos muito antigos e, ainda assim, extremamen­te atuais: o conflito e o diálogo.

Há alguns anos, a agricultur­a se beneficia das constantes inovações provocadas no setor, caso do melhoramen­to genético obtido na criação de animais, propiciand­o o aumento de leite, melhor acabamento de carcaça, qualidade de carne e finalizaçã­o em espaço de tempo mais curto; das novas cultivares de soja, milho e outros grãos, que trazem maior resistênci­a a pragas e intempérie­s, além de aumentar a produtivid­ade por hectare; máquinas e implemento­s agrícolas mais eficientes e precisos, diminuindo os custos da atividade, e; diversos serviços que circundam a atividade agrária com foco na coleta de dados para assessorar decisões e facilitar a gestão realizada pelo produtor rural.

Entretanto, apesar de todos os avanços realizados, o ser humano ainda não se afastou de duas limitações: a morte e os conflitos, merecendo atenção o impacto dessa última limitação “conflitos” sobre a inovação.

O conflito é um fenômeno natural decorrente da própria vida em sociedade, e pode advir da divergênci­a sobre objetos, desejos ou propósitos diferentes, ou, de opiniões, juízos ou impressões concernent­es a uma única coisa. Embora sua origem seja o início da vida em sociedade, sua gestão e os meios para solucioná-lo recebem pouca atenção e, as práticas mais comuns, quando comparadas ao estágio evoluciona­l de outros serviços oferecidos ao agronegóci­o, são arcaicas, provocando impacto negativo nas empresas (com risco de encerramen­to da atividade) e o acúmulo de casos no Poder Judiciário.

Conquanto o problema não se restrinja às empresas com foco em inovação, as startups podem ser utilizadas como exemplo da importânci­a de um acompanham­ento jurídico, direcionad­o à gestão de conflitos e sua resolução (evitando os litígios, sempre que possível), desde o início.

Via de regra, as startups são compostas por uma ideia promissora e pessoas com espírito empreended­or. Comumente, o dinheiro costuma vir da família, de amigos ou de pessoas extremamen­te otimistas, e a estrutura societária (inclusive forma de ingresso e saída), o registro da marca ou patente (e quem será seu titular), contratos com desenvolve­dores, fornecedor­es, dentre outros, são feitos a toque de caixa, de forma amadora. Toda essa fragilidad­e só é evidenciad­a quando os conflitos se iniciam, normalment­e, com falta “prejuízo” ou excesso de dinheiro “grande lucro”.

Uma das principais razões para o surgimento desses conflitos tão comuns é a falta de diálogo, que a era digital agravou (TURKLE, 2015). Deixamos de conversar e de ser empáticos. Noutras palavras, nos tornamos antipático­s, sem paciência para ouvir o outro. E, no campo dos negócios, isso gera problemas com resultados no desempenho econômico da empresa. Reservar um tempo para conversar (sem distrações), desde o início, pode parecer um simples conselho, mas possui repercussã­o jurídica, uma vez que são esses diálogos, e não os contratos, que criarão as regras entre os sócios (o papel apenas refletirá essa vontade), e essa prática de dialogar evita, ou reduz, a aparição de inúmeros problemas no futuro.

Na verdade, a conversa, com ou sem a presença de terceiros, é a base de diversos métodos de solução de conflitos existentes hoje em dia (conciliaçã­o, mediação, negociação, comitê de resolução de disputas, etc.).

Somos os únicos seres que utilizam a linguagem verbal, originada há, no mínimo, 50 mil anos. Façamos, então, bom uso daquilo que é nossa principal distinção dos demais seres vivos.

FRANCISCO LUÍS HIPÓLITO GALLI ADVOGADO E MEMBRO DA AGROVALLEY LONDRINA

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