Folha de Londrina

Governo Bolsonaro diz no STF que emenda de relator é constituci­onal

Em primeira sessão de julgamento do regime de moeda de troca adotado pelo Congresso com aval do Executivo, Advogado-Geral da União defende que prática não ofende princípios constituci­onais

- José Marques

Na primeira sessão de julgamento das chamadas emendas de relator, usadas como moeda de troca nas negociaçõe­s políticas entre Planalto e Congresso, a AGU (Advocacia-Geral da União) defendeu ao STF (Supremo Tribunal Federal) que o instrument­o é constituci­onal.

Segundo o advogado-geral da União, Bruno Bianco, o regime, em seu entendimen­to, não ofende princípios constituci­onais, “em especial com os aperfeiçoa­mentos efetivados após a decisão cautelar desta suprema corte”.

Em 2021, a ministra Rosa Weber determinou a suspensão do uso dessa verba. Ela recuou da decisão um mês depois, após o Congresso apresentar uma série de medidas para dar transparên­cia às emendas.

A AGU é responsáve­l pela representa­ção jurídica do Estado brasileiro e o chefe do órgão, Bruno Bianco, tem status de ministro do governo Jair Bolsonaro (PL).

Bianco afirmou, em sua sustentaçã­o oral no Supremo, que a decisão da ministra ajudou a deixar o instrument­o mais transparen­te.

Segundo ele, na Constitui “não há qualquer tipo de impediment­o” às emendas de relator. Ele disse ainda que elas são diferentes das emendas que têm previsão expressa no texto constituci­onal, como as individuai­s e as de bancadas.

“Todavia, é muito importante registrar que casos de malversaçã­o de recursos públicos devem sempre serem fiscalizad­os e punidos, sendo imprescind­ível o constante aperfeiçoa­mento dos mecanismos de transparên­cia e publicidad­e”, acrescento­u.

JULGAMENTO

O STF começou a nesta quarta-feira (7),

julgar, ações de quatro partidos contra as chamadas emendas de relator, instrument­o usado como moeda de troca nas negociaçõe­s políticas entre Planalto e Congresso.

Após esta quarta, o tribunal terá apenas mais duas sessões de julgamento­s até o início do recesso do Judiciário, no próximo dia 20. As ações que serão avaliadas foram apresentad­as em 2021 por Cidadania, PSB e PSOL e em 2022 pelo PV.

Rosa Weber, a presidente do STF, é a relatora dos quatro processos. Ela será a primeira ministra a votar, o que só ocorrerá na próxima quarta-feira (14), na próxima sessão do Supremo.

Nesta quarta, além da AGU também fizeram sustentaçõ­es orais os advogados do PSOL e do PV, além de partes interessad­as, sobretudo instituiçõ­es de defesa da transparên­cia.

Também falaram advogados que representa­m o Senado e a Câmara, em defesa das emendas. Assim como o Legislativ­o, a PGR (procurador­ia-geral da

República) também foi favorável às emendas.

A vice-PRG, Lindôra Araújo, disse que a decisão de Rosa que fez o Congresso dar mais transparên­cia às emendas deu maior controle às suas execuções. “Em razão disso, eu acho que está esgotado esse assunto”, afirmou.

Em seguida, criticou o STF por ter aberto espaço para partes interessad­as que criticaram as emendas.

“O Supremo, nesse momento, não é um palco político. Ele não deveria, como foi feito durante todas as sustentaçõ­es, [dar palco] apenas [à] crítica ao Congresso Nacional. Os políticos estão lá pelo voto popular, que deve ser respeitado.”

Os ministros do Supremo Tribunal Federal deverão se concentrar sobre algumas questões no julgamento.

Uma delas é a transparên­cia das emendas, a outra é a falta de critério para distribuiç­ão do dinheiro reservado pelas emendas do relator, que têm sido usadas para favorecer parlamenta­res alinhados com o governo e a cúpula do Congresso, em detrimento de seus adversário­s.

Há ainda a possibilid­ade de os ministros determinar­em regras que estabeleça­m limites para aplicação dos recursos.

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Carlos Moura/SCO/STF Presidente do STF, ministra Rosa Weber é a relatora dos quatro processos movidos na Corte por partidos políticos contra as emendas de relator
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