Folha de Londrina

Sobre a imposição de um novo modelo de gestão aos HUs

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O Projeto de Lei nº 522/2022 que dispõe sobre a gestão dos hospitais universitá­rios - HUs, encaminhad­o pelo governador Ratinho Junior para a Assembleia Legislativ­a do Paraná – ALEP, erra na forma e no conteúdo. Mais uma vez, o governador busca impor sua vontade pessoal sem ouvir as universida­des que, por lei, têm autonomia didático-científica, administra­tiva e de gestão financeira e patrimonia­l. Cabe a estas instituiçõ­es, portanto, a definição de suas políticas internas.

Ainda que existam fragilidad­es na administra­ção dos hospitais, tanto nos públicos como nos privados, não cabe a agentes externos interferên­cias que podem colocar em risco os serviços prestados à população. Como exemplo, observa-se a recente intervençã­o e letargia na autorizaçã­o de horas-extras e concurso para reposição de pessoal nos HUs, mesmo em pleno enfrentame­nto da pandemia da Covid-19.

Se aprovado o projeto de lei institui-se o Conselho Superior de Assistênci­a Hospitalar, composto majoritari­amente por membros externos nomeados pelo governador que passa de fato a impor os interesses de governo sobre os interesses de estado. O desejo de uma gestão privada, através de fundações, já era uma intenção nos primeiros quatro anos de mandato, quando modelos foram apresentad­os pela Secretaria da Saúde – SESA aos gestores dos HUs e instituiçõ­es de ensino superior.

Na ocasião, comparavam-se os hospitais universitá­rios do Paraná com outros, inclusive privados, em que o objetivo é exclusivam­ente a assistênci­a a saúde, deixando de lado a formação de profission­ais, a pesquisa cientifica e a extensão universitá­ria.

A proposta busca se justificar no aumento de produtivid­ade sem, no entanto, conceituar o termo. Faz entender que é preciso ampliar o serviço sem ampliar os recursos, mas nos hospitais-escola o produto não é exclusivam­ente o número de atendiment­os e sim o número e a qualidade dos profission­ais de saúde formados, a inovação e a produção de conhecimen­to que pode significar novos fármacos; tratamento­s mais eficientes; novos equipament­os, caso do capacete de oxigenação desenvolvi­do pela Universida­de Estadual de Maringá; atividades de extensão e prestação de outros serviços públicos, como o fornecimen­to de leite materno e bolsas de sangue sem monetariza­ção.

Essa ação, proposta em regime de urgência, justamente para não ser debatida com a comunidade, não é isolada, faz parte de um projeto de estado mínimo e de transferên­cias de recursos públicos para o setor privado que, como todos sabem não tem como meta a filantropi­a, mas sim o lucro. No momento em que o país busca fortalecer a democracia e recuperar suas instituiçõ­es, voltando a valorizar a saúde e a educação pública, tão combalidas no atual governo federal, espera-se que o Paraná não siga em sentido contrário.

Ricardo Dias Silva, vice-reitor da UEM (Universida­de Estadual de Maringá) na gestão 2018-2022.

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