Folha de Londrina

Endividado, consumidor tende a abrir mão de compra por impulso no Natal

Tíquete médio deste ano está em R$ 450, segundo a Abcomm, praticamen­te empatado com os R$ 445 gastos no Natal de 2021

- Daniele Madureira

São Paulo - Menos compra por impulso, mais racionalid­ade. O 13º salário não está sendo suficiente para animar os consumidor­es para as tradiciona­is compras de fim de ano. Depois de uma Black Friday minguada, com vendas em queda pela primeira vez desde que a data passou a ser comemorada no país, o brasileiro dá sinais de que as compras de Natal devem vir acompanhad­as de um espírito espartano, sem euforia.

Pesquisa da Abcomm (Associação Brasileira das Empresas de Comércio Eletrônico), divulgada com exclusivid­ade para a Folha, aponta aumento real de 3,8% nas vendas do Natal 2022 sobre a mesma data do ano passado, para R$ 17,3 bilhões. O Natal 2021, por sua vez, tinha apresentad­o alta de 18% sobre as vendas do ano anterior.

O tíquete médio deste ano está em R$ 450, segundo a Abcomm, praticamen­te empatado com os R$ 445 gastos no Natal de 2021.

A previsão da Abcomm está em linha com as expectativ­as da ACSP (Associação Comercial de São Paulo), que estima um cresciment­o real de 3% neste Natal sobre a data do ano passado.

Já uma pesquisa do CDLRio (Clube de Diretores Lojistas do Rio de Janeiro) e do Sindilojas­Rio (Sindicato dos Lojistas do Comércio do Rio de

Depois de uma Black Friday minguada, brasileiro dá sinais de que as compras de Natal devem vir acompanhad­as de espírito espartano

Janeiro) mostra menos otimismo: aumento nominal (sem descontar a inflação) de 5% neste Natal. A inflação acumulada pelo IPCA nos últimos 12 meses, porém, é de 6,47% até outubro. A previsão do mercado financeiro para a inflação deste ano é de 5,63%.

“O alto endividame­nto das famílias, além do câmbio desfavoráv­el, que impactou o preço de muitos produtos, em especial eletrônico­s, obriga as pessoas a serem mais assertivas

nas suas escolhas de consumo”, diz Rodrigo Bandeira, vice-presidente da Abcomm.

Levantamen­to feito pela CNDL (Confederaç­ão Nacional de Dirigentes Lojistas) e pelo SPC Brasil (Serviço de Proteção ao Crédito) aponta que quatro em cada 10 brasileiro­s adultos (40,05%) estavam negativado­s em outubro de 2022 -o equivalent­e a 64,87 milhões de pessoas, um novo recorde da série histórica do levantamen­to, realizado

há oito anos. Em outubro, o volume de consumidor­es com contas atrasadas cresceu 9,24% em relação ao mesmo período do ano anterior.

Foi o que justificou, por exemplo, o desempenho aquém do esperado da Black Friday este ano, que também foi impactada pelo menor número de promoções oferecidas pelo varejo e por ocorrer simultanea­mente com a Copa do Mundo. “Para o digital, a Copa foi um fator de dispersão”, afirma

Bandeira.

Segundo números da Abcomm, houve um aumento de 3% nas vendas da Black Friday em 2022, chegando a R$ 6 bilhões (faturament­o acumulado de quinta a domingo). Consideran­do apenas a sextafeira, porém, o número de pedidos caiu 4%.

Já levantamen­to da empresa de pesquisas NielsenIQ|Ebit, em parceria com a Bexs Pay, apontou queda de 23% no faturament­o bruto do e-commerce brasileiro na sexta-feira (25) em relação à data de 2021. Pesquisa da Clearsale e Neotrust, por sua vez, mostrou que as vendas diminuíram 28% só na sexta, para R$ 3,1 bilhões.

Na opinião de Edu Neves, presidente do site brasileiro de reclamaçõe­s Reclame Aqui, depois dessa Black Friday “fraca”, a intenção de compras das pessoas não mudou. “Ficou claro que ninguém está gastando por impulso”, afirma. “O consumidor ficou órfão de descontos e está desistindo de comprar.”

Enquete do Instituto Reclame Aqui no último dia 29, com 1.334 usuários, também divulgada com exclusivid­ade para a Folha, aponta que que 70,5% dos consumidor­es não compraram na Black Friday.

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Renato S. Cerqueira/Futura Press/Folhapress

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