Endividado, consumidor tende a abrir mão de compra por impulso no Natal
Tíquete médio deste ano está em R$ 450, segundo a Abcomm, praticamente empatado com os R$ 445 gastos no Natal de 2021
São Paulo - Menos compra por impulso, mais racionalidade. O 13º salário não está sendo suficiente para animar os consumidores para as tradicionais compras de fim de ano. Depois de uma Black Friday minguada, com vendas em queda pela primeira vez desde que a data passou a ser comemorada no país, o brasileiro dá sinais de que as compras de Natal devem vir acompanhadas de um espírito espartano, sem euforia.
Pesquisa da Abcomm (Associação Brasileira das Empresas de Comércio Eletrônico), divulgada com exclusividade para a Folha, aponta aumento real de 3,8% nas vendas do Natal 2022 sobre a mesma data do ano passado, para R$ 17,3 bilhões. O Natal 2021, por sua vez, tinha apresentado alta de 18% sobre as vendas do ano anterior.
O tíquete médio deste ano está em R$ 450, segundo a Abcomm, praticamente empatado com os R$ 445 gastos no Natal de 2021.
A previsão da Abcomm está em linha com as expectativas da ACSP (Associação Comercial de São Paulo), que estima um crescimento real de 3% neste Natal sobre a data do ano passado.
Já uma pesquisa do CDLRio (Clube de Diretores Lojistas do Rio de Janeiro) e do SindilojasRio (Sindicato dos Lojistas do Comércio do Rio de
Depois de uma Black Friday minguada, brasileiro dá sinais de que as compras de Natal devem vir acompanhadas de espírito espartano
Janeiro) mostra menos otimismo: aumento nominal (sem descontar a inflação) de 5% neste Natal. A inflação acumulada pelo IPCA nos últimos 12 meses, porém, é de 6,47% até outubro. A previsão do mercado financeiro para a inflação deste ano é de 5,63%.
“O alto endividamento das famílias, além do câmbio desfavorável, que impactou o preço de muitos produtos, em especial eletrônicos, obriga as pessoas a serem mais assertivas
nas suas escolhas de consumo”, diz Rodrigo Bandeira, vice-presidente da Abcomm.
Levantamento feito pela CNDL (Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas) e pelo SPC Brasil (Serviço de Proteção ao Crédito) aponta que quatro em cada 10 brasileiros adultos (40,05%) estavam negativados em outubro de 2022 -o equivalente a 64,87 milhões de pessoas, um novo recorde da série histórica do levantamento, realizado
há oito anos. Em outubro, o volume de consumidores com contas atrasadas cresceu 9,24% em relação ao mesmo período do ano anterior.
Foi o que justificou, por exemplo, o desempenho aquém do esperado da Black Friday este ano, que também foi impactada pelo menor número de promoções oferecidas pelo varejo e por ocorrer simultaneamente com a Copa do Mundo. “Para o digital, a Copa foi um fator de dispersão”, afirma
Bandeira.
Segundo números da Abcomm, houve um aumento de 3% nas vendas da Black Friday em 2022, chegando a R$ 6 bilhões (faturamento acumulado de quinta a domingo). Considerando apenas a sextafeira, porém, o número de pedidos caiu 4%.
Já levantamento da empresa de pesquisas NielsenIQ|Ebit, em parceria com a Bexs Pay, apontou queda de 23% no faturamento bruto do e-commerce brasileiro na sexta-feira (25) em relação à data de 2021. Pesquisa da Clearsale e Neotrust, por sua vez, mostrou que as vendas diminuíram 28% só na sexta, para R$ 3,1 bilhões.
Na opinião de Edu Neves, presidente do site brasileiro de reclamações Reclame Aqui, depois dessa Black Friday “fraca”, a intenção de compras das pessoas não mudou. “Ficou claro que ninguém está gastando por impulso”, afirma. “O consumidor ficou órfão de descontos e está desistindo de comprar.”
Enquete do Instituto Reclame Aqui no último dia 29, com 1.334 usuários, também divulgada com exclusividade para a Folha, aponta que que 70,5% dos consumidores não compraram na Black Friday.