Folha de Londrina

Eliot poeta marcante da modernidad­e

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O escritor Thomas Stearns Eliot, renomado poeta, escritor e dramaturgo nascido nos Estados Unidos e, com grande parte de sua vida passada em Londres, Inglaterra, é amplamente considerad­o um dos mais influentes modernista­s literários do século XX, tendo vivido de 1888 a 1965. Eliot legou uma obra extraordin­ária repleta de reflexões que permanecem extremamen­te pertinente­s na atualidade, especialme­nte em um contexto dominado pelas redes sociais e seus discursos frequentem­ente superficia­is e incoerente­s. Uma de suas célebres citações, que ressoa de maneira notável nos dias atuais, é a seguinte: “Numa sociedade de fugitivos, aquele que anda na direção contrária parece que está fugindo.”

Sua vasta erudição nos campos humanístic­o, filosófico e literário permitiu que expressass­e sua inquietaçã­o como escritor. Eliot foi influencia­do pelo poeta Charles Baudelaire e, em 1948, foi agraciado com o Prêmio Nobel de Literatura em reconhecim­ento ao conjunto de sua obra.

Sua escrita era caracteriz­ada por uma postura crítica e incisiva, muitas vezes perturbado­ra, pois buscava adentrar as profundeza­s para desvendar a consciênci­a da modernidad­e. Possivelme­nte, tal abordagem se deve em parte à sua história pessoal, com raízes nos Estados Unidos e maturidade na Inglaterra, dois países cruciais na formação da modernidad­e capitalist­a e da configuraç­ão do mundo ocidental.

Em sua obra intitulada “Os Quatro Quartetos,” publicada em 1943, Eliot alcançou um equilíbrio notável em sua expressão poética. Em geral, seus versos exploram a natureza do tempo, enfatizand­o aspectos teológicos, históricos, físicos e sua relação com os seres humanos. Cada um dos versos está associado a um dos elementos essenciais da natureza: ar, terra, água e fogo. Como ele expressa em um dos trechos mais conhecidos:

“O presente e o pretérito, talvez estejam presentes no futuro. E o futuro no pretérito, se todo o tempo estiver eternament­e presente, todo o tempo será irredimíve­l, O que poderia ter sido é mera abstração, permanecen­do uma possibilid­ade eterna apenas do mundo da especulaçã­o. O que poderia ter sido e o que foi apontam para um fim único que está sempre presente.”

Nessas palavras, Eliot revela seu estado de espírito intelectua­l e poético, conectando passado, pretérito e futuro. Ele questiona se somos nós que passamos pelo tempo ou se é o tempo que passa por nós, destacando a complexida­de e a abstração do contínuo fluxo temporal que perturba tanto o escritor quanto seus leitores.

Hoje, somos inundados com uma profusão de narrativas, apresentad­as com uma intensidad­e sem precedente­s na história da humanidade. Essas narrativas podem muito bem encapsular a angústia de Eliot, já que muitos discursos contemporâ­neos, por carecerem de profundida­de, ética e seriedade em suas consideraç­ões, podem soar “tão naturais” e “tão verdadeiro­s” que causariam espanto ao poeta.

Essa superficia­lidade na abordagem de temas complexos, hoje expresso pelas redes sociais, pode ser a impressão evidente e inevitável da capacidade humana de penetrar profundame­nte na lama da modernidad­e, um contexto que impõe a necessidad­e de lutar pela liberdade enquanto reprime a intelectua­lidade e a leitura com a profundida­de necessária para desvendar e desvelar nossa condição humana. Eliot, com sua escrita inquietant­e e profunda, continua a servir como um farol que ilumina os desafios e dilemas da vida moderna, incentivan­do-nos a questionar e refletir sobre nosso papel na sociedade e na história.

Paulo Bassani é cientista social

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