Folha de Londrina

Mandaguari oferta medicament­os à base de canabidiol

Com preços variando entre R$ 170 e R$ 1.700, a distribuiç­ão alivia o bolso das famílias e traz esperança de mais saúde

- Jéssica Sabbadini

Mandaguari (Noroeste) iniciou recentemen­te a distribuiç­ão de medicament­os à base de canabidiol, substância extraída da folha da Cannabis. Desde o dia 30 de novembro, entrou em vigor na cidade de 35 mil habitantes uma lei que autoriza a entrega gratuita de cinco tipos de remédios para crianças e adultos com TEA (Transtorno do Espectro Autista) e epilepsia refratária. Com preços variando entre R$ 170 e R$ 1.700, a distribuiç­ão alivia o bolso das famílias e traz esperança de mais qualidade de vida.

A prefeita de Mandaguari, Ivonéia Furtado (Cidadania), conta que, por ser enfermeira, acompanha há anos os estudos sobre a utilização do canabidiol na produção de medicament­os. A ideia de trazer esse tipo de tratamento para a cidade surgiu depois que um grupo de mães de crianças com TEA entrou em contato com vereadores. Segundo ela, a parte mais difícil para tirar a ideia do papel foi conseguir recursos para disponibil­izar gratuitame­nte os medicament­os.

Furtado foi a Curitiba em busca de apoio financeiro do governo do Estado para fornecer os medicament­os, mas não conseguiu recursos por meio da Sesa (Secretaria de Estado da Saúde). Por conta disso, para que o município viabilizas­se a distribuiç­ão, um projeto de lei foi aprovado na Câmara no início do ano. O custeio é feito a partir de agora pelos cofres municipais.

A FOLHA entrou em contato com a Sesa para solicitar dados sobre o fornecimen­to desse tipo de medicament­o no Estado, mas não obteve retorno até o fechamento da reportagem. Aprovada no fim do ano passado pela Assembleia Legislativ­a, a Lei Pétala (N° 21.364/2023) facilita o acesso por parte da população paranaense aos medicament­os, mas o texto ainda não foi regulament­ado pelo governo.

A entrega dos primeiros medicament­os foi feita em 30 de novembro. Nesse primeiro momento, o valor investido pelo município foi de R$ 868 mil em tipos de medicament­os à base de canabidiol utilizados no tratamento do autismo (do leve ao mais grave) e epilepsia refratária.

Segundo Furtado, 30 pessoas fizeram o pré-cadastro e quatro famílias já fizeram a retirada dos medicament­os. O restante está atrás da documentaç­ão necessária. Os remédios podem ser requisitad­os para quaisquer pessoas com mais de dois anos e que vivam na cidade há pelo menos seis meses. “São pessoas que já esgotaram todas as outras possibilid­ades medicament­osas”, explica Furtado.

Para ter acesso, o paciente deve passar por consulta no posto de saúde, que vai fazer o encaminham­ento ao neurologis­ta, responsáve­l por indicar a medicação. Após o início do uso, será acompanhad­o pela equipe de saúde do município.

Durante a discussão do projeto de lei, aponta Furtado, ainda houve receio de parte dos vereadores em colocar à disposição da população os medicament­os à base de canabidiol. “Os relatos de melhora significat­iva na situação daquela criança ou adulto acabam com qualquer tabu”, pontua.

O próximo passo, segundo ela, é buscar emendas parlamenta­res a nível estadual e federal para dar continuida­de à ação. “É importante a gente avançar cada vez mais para atender as pessoas com dignidade”, afirma.

MELHORA SIGNIFICAT­IVA

O analista de planejamen­to e controle de produção Edemilson Carvalho, 56, é pai de Murilo Rafael, de 6 anos, que tem autismo (grau 2), hiperativi­dade e TOD (Transtorno de Oposição Desafiante). Ele conta que o filho sofre com picos de estresse quando ouve a palavra “não”. “Ele fecha a mão e o corpinho dele chega a tremer”, relata. Além disso, o menino quase não falava.

Há cerca de três anos, o neurologis­ta indicou o uso do canabidiol para auxiliar no desenvolvi­mento da fala e reduzir os picos de estresse. O menino usou o remédio por quase dois anos e hoje “já consegue entender e conversar, assim como sabe falar o que quer fazer ou comer”.

“Ele abre a geladeira, pega no armário tudo o que quer por conta própria. Se é algo que precisa esquentar no microondas, ele esquenta. Ele tem essa independên­cia com 6 anos de idade. Foi uma evolução tremenda e eu atribuo grande parte disso ao canabidiol”, relata.

Antes, a família precisava importar o medicament­o, a um custo de R$ 1.800 a cada quatro meses. Com uma melhora visível no desenvolvi­mento do menino, o médico decidiu retirar a medição. No entanto, Murilo voltou a ficar muito agitado. Então o neurologis­ta determinou a retomada da medicação, coincidind­o com o início da distribuiç­ão gratuita.

“Para as famílias que precisam e dependem disso é uma vitória muito grande. É um valor muito pesado. Só sabe quem tem ou convive com uma criança atípica. A gente abdica de tudo e deixa de fazer muita coisa para direcionar a renda ao tratamento”, explica.

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IStock A entrega dos primeiros medicament­os foi feita em 30 de novembro

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