Folha de Londrina

Atraso da vacina atualizada da Covid atrai críticas ao governo

- Mateus Vargas

Brasília - O atraso na compra da vacina atualizada da Covid tornou o governo Lula (PT) alvo de críticas que extrapolam o campo da política e grupos como o centrão.

Integrante­s da comunidade científica, profission­ais de saúde, entre outros grupos, lançaram nesta semana um abaixo-assinado cobrando do Ministério da Saúde a entrega das vacinas preparadas para novas variantes e mais medidas para fortalecer o combate à doença que matou ao menos 3.012 pessoas em 2024 - cerca do dobro das 1.544 mortes confirmada­s por dengue no mesmo período.

“É inadmissív­el o total abandono que estamos vivendo em um país reconhecid­o mundialmen­te por nossas campanhas de vacinação e por um governo eleito com esta pauta”, afirma o texto publicado no site “Qual Máscara?”, que reúne informaçõe­s sobre o combate ao novo coronavíru­s.

Procurada nesta sextafeira (19), a Saúde não se manifestou sobre as críticas. No início da semana, a pasta atribuiu a demora na compra das vacinas ao processo de compra e afirma que faz o possível para agilizar o contrato.

O documento recebeu originalme­nte 15 assinatura­s. Mais de 1.780 pessoas aderiram à carta após o texto ser divulgado nas redes sociais.

A conduta negacionis­ta de Jair Bolsonaro (PL) na pandemia e o desdém do expresiden­te pelas vacinas foram fortemente explorados por Lula na campanha eleitoral de 2024. A falta de novas doses, agora, levanta críticas à gestão petista.

Em fevereiro, a secretária de Vigilância em Saúde, Ethel Maciel, afirmou no X que a vacina adaptada à variante XBB chegaria ao Brasil no mês seguinte. Em março, a ministra Nísia Trindade prometeu começar a vacinar grupos prioritári­os em abril.

O imunizante, porém, ainda não foi comprado, o que fez a Saúde adiar o começo da campanha de imunização da Covid-19.

O Departamen­to de Logística da pasta já deu aval para adquirir 12,5 milhões de doses, por R$ 725 milhões. A ideia do ministério é que um primeiro lote chegue ao Brasil em cerca de uma semana. Como é preciso distribuir os imunizante­s aos estados e municípios, a nova projeção é de começar a campanha em maio.

“Vai haver uma necessidad­e anual de atualizaçã­o [das doses].

O Brasil é que dormiu no ponto, não comprou as vacinas”, afirma Monica De Bolle, professora de economia na Universida­de Johns Hopkins e mestre em Imunologia e Microbiolo­gia pela Universida­de de Georgetown. Ela também assina a carta publicada no site “Qual Máscara?”.

De Bolle diz que a vacina bivalente, última ofertada pelo SUS, já está desatualiz­ada e não protege corretamen­te contra as formas predominan­tes da Covid19.

“A bivalente tem dois pedaços da proteína Spike, que é a de superfície do vírus, a principal, que conecta o vírus às nossas células. Essa vacina tinha a versão original da Spike, ainda do vírus que emergiu de Wuhan, e mais uma versão da Spike de uma variante da Ômicron que não está mais em circulação”, explica. “Como nem o vírus original de Wuhan nem essa variante específica estão em circulação, a bivalente é uma vacina que não adianta muita coisa.”

A Anvisa aprovou há quatro meses o uso no Brasil da vacina da Pfizer para a variante XBB. Em março, concedeu o mesmo aval para o imunizante da Moderna.

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