Folha de Londrina

Sob Bolsa Família, desigualda­de permanece em mínima histórica

Máxima da série ocorreu em 2018, antes da pandemia. Índic eé calculado a partir dos dados de rendimento médio domiciliar per capita

- Leonardo Viecelli

Rio de Janeiro - A desigualda­de da renda medida pelo índice de Gini permaneceu em 2023 no menor nível de uma série histórica iniciada em 2012 no Brasil, de acordo com dados divulgados nesta sexta-feira (19) pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatístic­a).

O indicador ficou em 0,518 no ano passado, o primeiro do governo Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Assim, repetiu o patamar mínimo da série, que já havia sido registrado em 2022 (0,518), ainda no mandato do então presidente Jair Bolsonaro (PL).

O Gini reflete a concentraç­ão de renda, variando de zero (igualdade máxima) a um (desigualda­de máxima). Quanto menor o resultado, mais baixa é a disparidad­e entre os extremos da população.

A máxima da série ocorreu em 2018 (0,545), antes da pandemia. O índice é calculado a partir dos dados de rendimento médio domiciliar per capita (por pessoa).

Os números integram a Pnad (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios) Contínua: Rendimento de Todas as Fontes 2023.

O levantamen­to vai além do mercado de trabalho e também traz informaçõe­s de recursos obtidos pela população por meio de iniciativa­s como aposentado­rias, pensões, benefícios sociais e aluguel.

Gustavo Geaquinto Fontes, analista da pesquisa do IBGE, afirma que a ampliação de programas como o Bolsa Família ajudou a segurar a desigualda­de na mínima da série no ano passado.

Segundo ele, as transferên­cias funcionara­m como uma espécie de contrapeso à elevação mais intensa da renda do trabalho verificada entre os mais ricos.

Na passagem de 2022 para 2023, enquanto o rendimento médio do trabalho cresceu 10,4% entre os 10% do topo da distribuiç­ão, a alta foi menor, de 1,8%, entre os 10% mais pobres. A elevação na média geral foi de 7,2%.

De acordo com a pesquisa, o índice de Gini específico do trabalho subiu de 0,486 em 2022 para 0,494 em 2023.

“Teve um efeito que contrabala­nçou isso, dos rendimento­s de programas sociais, particular­mente o Bolsa Família. Foi um efeito contrário, benefician­do sobretudo os domicílios de menor renda”, afirma Fontes.

O Bolsa Família voltou a ser chamado dessa forma ao ser relançado em março de 2023 pelo governo Lula. Com a decisão, o programa abandonou o nome de Auxílio Brasil, uma das apostas da gestão Bolsonaro.

O IBGE destacou que o Bolsa Família manteve a quantia mínima de R$ 600 em 2023, com a inclusão de novos benefícios de acordo com a composição familiar, o que aumentou o valor médio dos repasses.

Ainda de acordo com o instituto, as transferên­cias do programa chegaram a 19% dos domicílios do país no ano passado quase um em cada cinco lares. É o maior percentual da série iniciada em 2012.

NORDESTE

Na região Nordeste, o índice de Gini do rendimento domiciliar per capita recuou de 0,517 em 2022 para 0,509 em 2023. O patamar mais recente é o menor da série local.

Mesmo com a redução, a desigualda­de registrada no Nordeste ainda é a maior do país. A região agora é seguida de perto pelo Sudeste, onde o Gini subiu de 0,505 para 0,508. O Sul teve novamente o menor índice -o indicador local recuou de 0,458 para 0,454.

“Entre 2022 e 2023, a desigualda­de medida pelo Gini apresentou maiores variações nas regiões Norte (de 0,509 para 0,500) e Nordeste (de 0,517 para 0,509), ambas apresentan­do queda desse indicador”, diz o IBGE.

“Ressalta-se que essas duas regiões possuem as maiores proporções de domicílios beneficiad­os pelo programa Bolsa Família, e essa melhora na distribuiç­ão de renda pode ter sido favorecida pelo aumento do valor do benefício médio e pela ampliação da população abrangida pelo programa”, acrescenta o órgão.

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