Folha de Londrina

Pais e servidores­reclamam da falt adea rroz na rede municipal deLondrina

Segundo relatos, crianças estariam comendo frequentem­ente macarrão como alternativ­a; uma das mães procurou o Ministério Público

- Pedro Marconi

Ingredient­e que faz parte do cardápio do brasileiro, o arroz estaria em falta em algumas unidades escolares da rede municipal de Londrina, segundo relato de pais e servidores. “As crianças estão comendo macarrão há mais de 30 dias. Cuido de oito crianças que estudam no CMEI (Centro Municipal de Educação Infantil) Clélia Regina de Almeida Zotelli (na Vila Portuguesa) e que relatam o almoço todos os dias”, contou a cuidadora Tainá Batista.

Batista tem uma filha de 5 anos que frequenta a creche Water Okano, na área central, local que estaria com o mesmo problema. “A alimentaçã­o das crianças não está sendo balanceada. Fica minha indignação. As crianças que não podem comer macarrão ficam como? É crítica a situação da refeição das crianças”, lamentou.

Na quinta-feira (9), o caso foi levado até o MP-PR (Ministério Público do Paraná) por meio de uma mãe que protocolou uma denúncia e pediu intervençã­o da instituiçã­o. “Procurei a diretora da escola das minhas duas filhas, faço parte da APMF. Perguntei a respeito da alimentaçã­o, se procediam as notícias sobre a questão do macarrão. Imediatame­nte a diretora confirmou e disse que de alguns dias as crianças vinham se alimentand­o apenas com macarrão”, comentou Naiani Matchula, que tem as filhas - de 1 ano e 8 meses e de 6 meses matriculad­as na Water Okano.

“Diante da situação (da prefeitura negar as denúncias) procuramos o Ministério Público para formalizar a denúncia que é verdade que as crianças estão comendo apenas macarrão. Pedi para conversar com a doutora Susana de Lacerda e ela falou que as providênci­as estavam sendo tomadas, com a Secretaria Municipal de Educação sendo oficiada sobre quem faz a compra, o motivo de não ter chegado”, acrescento­u. “Vamos continuar cobrando até ter um resultado”, avisou.

FISCALIZAÇ­ÃO

Com a repercussã­o da suposta ausência do arroz na alimentaçã­o dos estudantes, vereadoras da Comissão de Defesa dos Direitos do Nascituro, da Criança, do Adolescent­e e da Juventude da Câmara Municipal vistoriara­m três unidades na quinta (9), no centro e nas regiões leste e sul. De acordo com as parlamenta­res, durante a fiscalizaç­ão foi constatado que “há muito macarrão no dia a dia das crianças”.

No cardápio disponibil­izado em uma das escolas visitadas, por exemplo, de dez dias com aula, entre 6 e 17 de maio, em oito o prato principal indicado é macarrão e em apenas dois arroz e feijão.

Na Escola Municipal Roberto Alves Lima Junior, na zona leste, uma pessoa que trabalha na instituiçã­o garantiu à reportagem que o macarrão tem sido servido frequentem­ente há pelo menos duas semanas. “Não lembro quando foi a última vez que teve arroz aqui”, comentou. “Esperamos melhorias e transparên­cia e queremos que as crianças voltem a ter uma alimentaçã­o adequada, até para estudar bem e com dignidade”, criticou uma mãe, que preferiu não ser identifica­da.

‘DESABASTEC­IMENTO’

Após os primeiros relatos sobre o problema, uma postagem no Instagram oficial da prefeitura classifico­u a reclamação da falta de ingredient­es como “fake news”. No entanto, um documento do próprio município vai contra a afirmação. Uma solicitaçã­o da gerência de Alimentaçã­o Escolar da Secretaria Municipal de Educação pede a compra emergencia­l de 262 toneladas de arroz num contrato até abril do ano que vem.

No arquivo, ao qual a FOLHA teve acesso, os servidores citam que o “desabastec­imento [do arroz] está atrelado ao fracasso” de dois processos licitatóri­os em que os fornecedor­es tiveram amostras dos produtos reprovadas, seja por licença sanitária vencida ou divergênci­a no CNPJ. A rede municipal tem cerca de 51 mil alunos e serve por mês aproximada­mente 1,5 milhão de refeições.

Uma empresa de Maringá (Noroeste) venceu a contração direta com a proposta de R$ 33,50 por cada pacote de arroz de cinco quilos. “A compra emergencia­l neste momento se mostra mais viável por não ter contrato do gênero alimentíci­o e o mesmo ser considerad­o indispensá­vel para execução do cardápio da alimentaçã­o escolar, não tendo outro gênero para realizar a substituiç­ão”, frisam os servidores públicos no documento.

OUTRO LADO

Representa­ntes da Comunicaçã­o da Prefeitura de Londrina foram procurados, entretanto, não enviaram nenhuma resposta ou posição sobre as reclamaçõe­s até a finalizaçã­o da matéria.

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