Folha de Londrina

País ainda falha na prevenção e mitigação

-

Curitiba - O Brasil evoluiu na detecção de riscos de desastres naturais e no monitorame­nto de áreas considerad­as problemáti­cas, mas ainda falha nos planos para prevenir e mitigar os efeitos de catástrofe­s naturais. Criado em 2011, após o desastre ocorrido na região serrana do Rio de Janeiro, o Centro Nacional de Monitorame­nto de Alerta de Desastres Naturais (Cemaden), ligado ao Ministério da Ciência e Tecnologia, atualmente monitora e emite alertas constantes sobre 1.133 municípios brasileiro­s. A outra ponta, no entanto, depende de planos estruturad­os pelos governos estaduais e pelas prefeitura­s.

“O Brasil ainda não tem esses planos previstos e bem estruturad­os. Tem algumas cidades mais avançadas, mas em termos gerais ainda estamos longe de dizer que as cidades do Brasil estão 100% prepara

das. E agora os eventos extremos estão mais frequentes e mais intensos”, diz a engenheira cartográfi­ca e doutora em Meteorolog­ia Regina Alvalá, diretora do Cemaden, cuja sede fica em São José dos Campos (SP). “Conseguimo­s avançar muito em monitorame­nto, mas outros eixos ainda não estão bem implementa­dos.”

Estados e municípios devem desenvolve­r planos de prevenção a desastres e de contingênc­ia, para o caso de eles ocorrerem. “Os planos de prevenção precisam contemplar se é preciso revegetar as matas ciliares dos rios que foram derrubadas, se é preciso revegetar os topos de morros, se são necessária­s obras de estruturas de contenção de encostas. Tem uma série de ações que esses planos precisam estabelece­r”, diz Regina Alvalá.

Já os planos de contingênc­ia têm como principal objetivo salvar vidas em caso de catástrofe­s naturais. “Eles precisam definir rotas de fuga, abrigos, como fazer a interlocuç­ão com a população. Precisam ter os abrigos pré-definidos, indicar para

onde a população vai, o quão perto e o quão longe esses abrigos estão de onde elas residem, se vão a pé, se a rota é segura. Esses planos ainda precisam ser estruturad­os.” Para Regina Alvalá, a conscienti­zação da população é parte fundamenta­l desse processo.

Para o engenheiro ambiental Helder Rafael Nocko, estudos das bacias hidrográfi­cas e de drenagem urbana são fundamenta­is. “Temos que monitorar a chuva e o nível dos rios. A drenagem urbana é uma questão de saneamento básico ainda pouco estudada, com poucos investimen­tos. E precisamos de ferramenta­s de mitigação. As cidades têm que passar a ser mais resiliente­s, com maior capacidade de resistir a esses fenômenos mais intensos, o que inclui estruturas de proteção nas cidades e a desocupaçã­o de áreas de risco. São dificuldad­es que precisam ser enfrentada­s”.

A reportagem da FOLHA solicitou uma entrevista à Defesa Civil do Paraná, mas não houve retorno até o fechamento desta edição.(J.M.L.)

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil