Folha de Londrina

Haddad defende diversific­ar produção agrícola nos estados

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BRASÍLIA, DF E SÃO PAULO, SP - O próximo Plano Safra conterá mecanismos para diversific­ar a produção pelos estados. A medida foi anunciada pelo ministro da Fazenda, Fernando Haddad (PT), no contexto da tragédia no Rio Grande do Sul, estado que produz cerca de 70% do arroz brasileiro.

Para lidar com os possíveis impactos das enchentes no preço do arroz, o presidente Lula (PT) determinou a importação de 1 milhão de toneladas de arroz.

“Ao invés de um estado produzir só arroz, ele vai ampliar cardápio de cultura. Se todos ampliarem um pouco, sairão da monocultur­a”, disse Haddad no programa Bom Dia Ministro, da TV Brasil, emissora pública de televisão.

“O Brasil é tão grande que, se acontecer problema em um estado, a produção dos outros compensa. Isso será feito respeitand­o solo, clima, mas alguma diversific­ação vamos ter que induzir”, continuou.

Ele lembrou que no ano passado, o Rio Grande do Sul enfrentou uma seca, o que também atrapalhou a cultura do arroz. Diante da escassez e do aumento de preços, foi estudada a importação do alimento, mas como o preço internacio­nal estava maior, o resultado seria um aumento maior do preço.

O mercado e especialis­tas dizem que é cedo para mensurar a pressão inflacioná­ria da tragédia. O cereal segue cotação internacio­nal, e seu preço atualmente está em patamar reduzido.

Mesmo assim, com a perspectiv­a de perda de parte da produção gaúcha, o governo fará um leilão internacio­nal. Segundo o ministro da Agricultur­a, Carlos Fávaro, os vendedores deverão ser de países do Mercosul. Caberá à Conab (Companhia Nacional de Abastecime­nto) a realização da compra.

De acordo como Irga (Instituto Rio Grandense do Arroz), 82,9% das lavouras já foram colhidas. Restam em torno de 150 mil hectares. A região central do estado é a que apresenta menor percentual de área colhida, com 62%, restando cerca de 45 mil hectares. Essa é a região mais afetada pelas enchentes.

Houve também perda de parte da produção que ainda está no campo. Segundo o ministro Carlos Fávaro, há armazéns e silos que foram atingidos pela água. O ministro também citou problemas de logística para escoar a produção local.

No programa o ministro elencou outras medidas da pasta para o Rio Grande do Sul. Nessa terça-feira (7), a Fazenda encaminhou para a Casa Civil uma proposta para a dívida do estado. Ela será levada nesta quarta (8) ao presidente Lula e será anunciada até esta quinta (9).

A ideia da Fazenda é suspender o pagamento da dívida pelo estado. A equipe econômica também avalia a possibilid­ade de reduzir ou suspender os encargos da dívida (juros), para evitar que o governo estadual retome os pagamentos devendo um valor ainda maior à União.

Outro projeto encaminhad­o pela Fazenda, prosseguiu Haddad, trata de linhas de crédito subsidiado para a região. Nesse caso, explicou Haddad, “serão medidas de crédito para atender uma gama de interesses prejudicad­os pelas chuvas no RS”.

Hoje, Rio Grande do Sul, Santa Catarina e Tocantins são responsáve­is pela maior parte da produção de arroz, lembra Alcido Elenor Wander, pesquisado­r da Embrapa Arroz e Feijão.

“O que levou a esse cenário é o fato de o RS ter uma condição mais favorável para o arroz, e o mercado fez essa concentraç­ão. É necessário ter incentivos para que o plantio seja interessan­te para produtores de outros estados”, diz.

Ele cita opções, como oferta de seguro agrícola diferencia­do para as culturas alimentare­s e de melhores condições de juros para esses produtores. Wander acrescenta que não adianta induzir a produção em regiões sem aptidão agrícola.

No caso do arroz para irrigação por inundação, as principais áreas hoje são de RS, SC e TO, mas há opções de áreas irrigadas por aspersão em diferentes estados, como SP, PR, MT, MG e no oeste da BA, diz.

“Se as compras governamen­tais forem feitas em outras estados para incentivar, tem forma de influencia­r essas desconcent­rações. É necessário ver até que ponto temos os recursos para fazer a indução, tem um custo para ser contemplad­os no Orçamento.”

Para o consultor Carlos

Cogo, da Cogo Inteligênc­ia em Agronegóci­o, com sede no Rio Grande do Sul, no entanto, o governo não deve interferir na intenção de plantio do produtor.

O produtor decide de acordo com a rentabilid­ade, e pode destinar uma parte da área para o arroz, mas conforme essas culturas se tornam menos atrativas há uma migração para outras de mais rentabilid­ade, afirma.

“Quanto menos isso depender da ação do Estado para viabilizar, melhor. Acredito que o governo irá criar benefícios diferencia­dos, crédito de custeio, taxas de juros diferentes ou uma cobertura de seguro maior para determinad­as culturas.”

Ele avalia que a chance de sucesso de uma indução por parte do governo funcionar é baixa. “Como estratégia, diluir o risco pode ser interessan­te. Pode ser que um produtor, pontualmen­te, ache isso uma boa ideia, mas acredito que a maior parte não vai dar bola.”

Segundo o consultor, o problema do arroz no Rio Grande do Sul é pontual e não é o caso de criar políticas agrícolas baseadas em momentos de crise.

Medida foi anunciada após impacto sobre arroz do Rio Grande do Sul; especialis­tas dizem que indução depende de incentivos do governo federal

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