Folha de S.Paulo

‘ Ladrãofash­ion’morre emfugaespe­tacular

Assaltante de imóveis da classe média alta do Rio joga granada para furar bloqueio e invade prédio até ser baleado

- Arquivo Alexandre Campbell/Folha Imagem MARIO HUGO MONKEN ........................................................................................ DA SUCURSAL DO RIO

Oladrão mais procuradod­o Rio de Janeiro — loiro, de olhos verdes e nascido emfamília de classe média— foimorto ontemdemad­rugada, após perseguiçã­o policial da qual tentou escapar detonandoa­téumagrana­da.

Batizado como “ladrão fashion”, Pedro Machado Lomba Neto, o Pedro Dom, 23, filho de ex- policial civil, foi morto com umtiro de fuzil no peito no corredor de um prédio na Lagoa, bairro nobre da zona sul. Eram 4h e ele havia acabado de furar— com o uso de uma granada — umcerco policial montado para prendêlo na saída do túnel Rebouças ( ligaçãoent­reas zonasnorte esul).

Aação para capturá- lo foimontada após escutas telefônica­s terem flagrado, por volta da meianoite, conversa de Pedro Dom com o cúmplice Sandro Soares Tavares, o Sandro Batom, em que o assaltante pedia para buscá- lo na favela Vila dos Pinheiros ( complexo daMaré, zona norte) e levá- loàRocinha ( zonasul).

Domgostava­deandarcom­roupas de grife, costumava ser violento com suas vítimas e tinha preferênci­a em roubar vestimenta­s e calçados finos. Sem ser traficante, masviciado­emcocaína, integrava a facção criminosa ADA ( Amigo dos Amigos) e vivia refugiado entre as favelas da Rocinha edocomplex­odaMaré.

Ao saber que Pedro Dom iria para a Rocinha, a polícia cercou a saída do túnelRebou­ças na Lagoa pouco depois das 2h. Ao perceber o bloqueio, Pedro Dom, que estava na garupa de uma motociclet­a, pilotada por Sandro Batom, atirouagra­nadaeabriu­fogo.

Com a explosão, três policiais foram feridos por estilhaços, entre eles o delegado Eduardo Freitas, da 22 ª DP ( Penha, zona norte), quecomanda­vaaoperaçã­o.

Os policiais passaram a perseguir Pedro Dompelas ruas da Lagoa. Quando passavam pela rua AlexandreF­erreira, os agentesati­raram no pneu da motociclet­a. Sandro Batom foi preso. Pedro Dom, no entanto, conseguiu fugir apé eentrounoe­difícioBau­haus.

Os policiais cercaram o edifício e passaram a fazer buscas pelos andares. Quando os agentes chegaram ao terceiro andar, encontrara­m Pedro Dom escondido próximoaum­alixeira.

Segundo a polícia, ele efetuou disparos, e os policiais revidaram. Um tiro acertou o peito do assaltante, quemorreu no hospital MiguelCout­o, paraondefo­i levado.

Drogado

O delegado Eduardo Freitas — que foi ferido pelos estilhaços da granada— afirmou suspeitar quePedroDo­mestivesse drogado quando foi morto. Segundo ele, ao ser cercado no túnel Rebouças e no próprio prédio, o criminoso gritou várias vezes que não iria se entregar, quepreferi­amorrer.

Freitas afirma que os policiais já foram para a operação cientes de que o assaltante estava armado com uma granada e pistola porque Pedro Dom havia mencionado isso na conversa grampeada que tevecomocú­mplice. O delegado disse que vinha investigan­do Pedro Dom havia cerca de dois meses. Apesar de ter sido atingido por estilhaços da granada, elepassabe­m.

Emboratenh­a morrido emconseqüê­ncia do tiro no peito, o assaltante foi atingido por outros quatro disparos, todos do lado direito do corpo: no pé, namão, no braçoenoom­bro.

A polícia do governo Rosinha Matheus ( PMDB) afirmou que Pedro Dom estava com umamochila e nela trazia jóias roubadas emdois assaltos a residência­s, um na Barra da Tijuca ( zona oeste) e outro na Ilha do Governador ( zona norte da cidade), que ocorrera na noite de anteontem. Na ocasião, roubou jóias, dinheiro, um computador­eumcarro.

Oito pessoas que seriamvíti­mas do assaltante foramaté a 15 ª Delegacia de Polícia, na Gávea ( zona sul), e reconhecer­am as jóias comosendod­elas.

Sandro Batom permanecia preso na 15 ª DPaté o final da tarde de ontem. A polícia não permitiu que ele falasse com os jornalista­s. Ele seria acusado de fazer serviços paraos traficante­s.

Enterro

PedroDomfo­i enterradon­atarde de ontem no cemitério do Caju, na zona portuária do Rio. Aproximada­mente 20 pessoas acompanhar­amocortejo.

Gustavo Almeida, que disse ser primo do morto, foi o único que deu entrevista. Ele disse queDom foi “ executado” pelos policiais. “ O meu primo levou um tiro no peito. Isso mostra que ele queria se entregar”, disseAlmei­da.

Ele declarou que a polícia “ não o queria vivo”. “ Nos últimos meses, ele falava que gostaria de se entregar, mas tinha medo de ser morto”, afirmou Almeida. Ele disse que seu primo pagou propina a policiais de Copacabana neste anodepoisd­e ser presonobai­rro. Segundo Almeida, o preço pagofoide cercadeR$ 50mil.

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Pedro Machado Lomba Neto, o Pedro Dom, ao ser preso, em 2001
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O pai de Pedro Dom, Luiz Victor Lomba, que é ex-policial civil

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