Folha de S.Paulo

Café para Haddad

- ROGÉRIO GENTILE

SÃO PAULO - Lula e o PT têm tratado Marta Suplicy como se a ex- prefeita de São Paulo fosse uma dona de casa dos anos 30. Marta, faça um café para o senhor Haddad. Marta, guarde o paletó do senhor Haddad. Marta, distribua uns panfletos para a campanha do senhor Haddad.

Marta tinha 29% das intenções de voto ( Datafolha) quando Lula decidiu substituí- la porHaddad, com2%. O ex- presidente avaliou que ela não teria chances no segundo turno em razão da rejeição que desperta em grande parte do eleitorado — 30% diziam à época que não votariam em seu nome em hipótese alguma.

O problema não está no fato de Marta ter sido preterida, emboraposs­a reclamar que a decisão deveria ter sido do partido, e não de uma única pessoa, ainda que esta pessoa seja Lula. Consideran­do as últimas eleições, quando ela foi sempre derrotada no final, o raciocínio do ex- presidente faz muito sentido.

Odesrespei­to à história da petista começa quando Lula e o partido ten- tam obrigá- la a participar de atos e a percorrer a cidade para apresentar Haddad aos eleitores. Não se obriga ninguém, muito menos umamulher como Marta, a fazer o que não quer.

Educada para casar, ter filhos e tocar piano, ela estudou psicologia, apresentou, em plena ditadura militar, um programa na TV sobre sexo, foi deputada, prefeita, ministra e é senadora. Nunca teve papas na língua, tampouco se intimidou com o preconceit­o quando decidiu trocar de marido. Goste- se ou não dela, é uma mulher de brio.

No sábado passado, mesmo dia em que faltou ao lançamento da campanha de Haddad, e foi criticada pelos colegas, a ex- prefeita escreveu umartigo enigmático na Folha.

Fazendo uma citação, disse que “há um tempo em que é preciso abandonar as roupas usadas (...) é o tempo da travessia”. No texto, ela afirma que as travessias são sempre difíceis, mas que não se chega à outra margemdori­o semresping­os. Estaria ela dando algum recado ao PT?

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