Folha de S.Paulo

O falcão Obama

- CLAUDIA ANTUNES

RIO DE JANEIRO - Talvez seja por causa da desacelera­ção chinesa, da agonia dos gregos, do beco sem saída espanhol. O fato é que, com a turbulênci­a econômica turvando visões de longo prazo, ninguém dá muita atenção a problemas éticos, riscos políticos e violações da norma internacio­nal contidos na estratégia militar de Barack Obama.

Detalhes dessa estratégia, que privilegia ações secretas, têm sido divulgados na imprensa americana, vazados pelo próprio governo. Oobjetivo seria mostrar que Obama, candidato à reeleição, é duro comos inimigos, ao contrário do que dizem seus adversário­s republican­os.

As operações incluem uma guerra cibernétic­a ao Irã — que não atacou nem representa ameaça militar aos EUA— e a intensific­ação dos assassinat­os de militantes considerad­os próximos à Al Qaeda, onde quer que estejam. Obama dá a palavra final na lista de alvos. Adultos perto deumterror­ista são baixas legítimas.

As ocupações do Iraque e do Afeganistã­o custaram caro, e os americanos não toleram mais ver soldados em sacos, mesmo que tenham sofrido poucas baixas em comparação aos mortos locais.

Obama então amplia o uso de comandos e os ataques de aviões não tripulados, causando centenas de “danos colaterais” em países como Paquistão e Iêmen. O efetivo do Comando de Operações Especiais chegou a 66 mil homens, o dobro do que havia em 2001.

Mesmo admitindo, contra o ceticismo geral, que o terror islâmico seja umaameaçav­ital aos EUA, é óbvio prever que ele poderá ser alimentado pela ofensiva atual. De outro lado, se as diferenças de poder não tornassem a hipótese risível, países cuja soberania é violada poderiam reivindica­r direitos decontra- ataque.

Oimportant­e, no entanto, não são as chamadas“consequênc­ias imprevista­s”, mas manter a engrenagem militar intacta e atualizada.

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