Folha de S.Paulo

Tucanos do bico vermelho

O PSDB se reaproxima dos sindicalis­tas. Em dez anos, a central sindical que já foi única virou centro de defesa dos interesses do governo

- ANTONIO DE SOUSA RAMALHO ANTONIO DE SOUSA RAMALHO, 63, é secretário nacional de Relações Trabalhist­as e Sindicais do PSDB, presidente do núcleo sindical do partido e do Sindicato dos Trabalhado­res nas Indústrias da Construção Civil de SP e vice- presiden

Recentemen­te lançado, o núcleo sindical do PSDB tem atraído a atenção da mídia, da sociedade e de sindicalis­tas de outras agremiaçõe­s e todas as centrais sindicais.

São os “tucanos do bico vermelho”, que enxergaram na reaproxima­ção do PSDB com sindicalis­tas uma volta às origens do partido e da própria socialdemo­cracia, que tem como um dos alicerces o movimento sindical.

O PSDB quer ser para os sindicalis­tas um espaço aberto e democrátic­o para que suas propostas sejam discutidas e depois defendidas nos parlamento­s. O PSDB quer sindicalis­tas no partido, mas sem influencia­r a atividade sindical. E, principalm­ente, sem aparelhar sindicatos ou centrais, como temos visto nos últimos dez anos, quando a central sindical que já foi única se transformo­u em centro de defesa dos interesses do governo.

E se o assunto for defesa do trabalhado­r, principalm­ente o mais humilde, é impossível defender esse governo como faz sistematic­amente a central sindical que o apoia.

O PSDB arrumou a casa durante o governo FHC. E teve em Ruth Cardoso a inspiração para criar os programas sociais que, maquiados e renomeados, são a única bandeira deste governo a favor dos pobres. O Fome Zero, este sim de concepção petista, não matou a fome de ninguém. O núcleo sindical do PSDB não vai aplaudir tanta mentira.

E, por falar emaplausos, a claque sindical do governo aplaudiu todas as medidas afoitas e superficia­is adotadas neste ano.

Relembrand­o: o pacotão de desoneraçã­o da folha de pagamento, que só beneficia alguns setores da indústria e ainda coloca em risco a previdênci­a social; a redução do IPI, que faz a indústria automobilí­stica sorrir, mas não faz nem cócegas na desindustr­ialização; easmudança­snas regras da poupança, que mais uma vez não defendem os mais pobres.

Seria simples incluir um teto mínimo para que as novas regras fossem aplicadas. Por exemplo, contas abertas há mais de 20 anos e com saldo inferior a R$ 20 mil reais estariam isentas de mudanças e renderiam normalment­e.

O BNDES continua financiand­o só grandes conglomera­dos e não olha para o pequeno e médio empreended­or, que dá emprego para 76% dos brasileiro­s — a central sindical do PT reclama baixinho. Apresident­e Dilma deixa a MP556caduc­ar, impedindo que o trabalhado­r que receba até 12 mil por ano fique isento do IR — do lado de lá, silêncio.

Os sindicalis­tas do PSDB são contra o fim da contribuiç­ão sindical e já deixaram isso claro. Temos posições definidas sobre tudo o que possa ser feito para defender e ampliar os direitos dos trabalhado­res.

OPSDBapost­ou na criação do seu núcleo sindical por acreditar que é necessário que os sindicalis­tas participem da vida partidária sem deixar de lado suas reivindica­ções. O que os tucanos do bico vermelho querem é que o Brasil volte ao rumocerto com ética, responsabi­lidade e muito trabalho.

Nossas posições são claras, sem meias verdade. Somos sindicalis­tas e não nos calaremos perante chantagens e malfeitos. Vamos fazer com que o núcleo sindical seja a voz do trabalhado­r dentro do partido e das aspirações sindicais, bandeiras do PSDB. Mas do jeito certo, com ética, sem colocar os estandarte­s do partido dentro de nenhum sindicato ou central sindical.

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