Folha de S.Paulo

Retirada de investimen­to é a maior desde 2008

Saldo nas trocas financeira­s ficou negativo em US$ 6,3 bi em maio

- MARIANA SCHREIBER MARIANA CARNEIRO DE SÃO PAULO

Piora da crise europeia e redução do cresciment­o no Brasil explicam forte saída de dólares, segundo economista­s

A piora da crise na Europa e o fraco desempenho da economia brasileira provocaram uma forte retirada de dólares do país em maio.

O saldo da conta financeira ficou negativo em US$ 6,3 bilhões no mês passado, pior resultado desde novembro de 2008, quando o mundo estava em pânico devido à quebra de bancos nos EUA.

A conta financeira contabiliz­a todos os dólares que entram e saem do país em transações não comerciais.

Já as trocas comerciais resultaram num saldo positivo de US$ 3,6 bilhões em maio, compensand­o parte do deficit financeiro. Ainda assim, o fluxo total de dólares ficou negativo em US$ 2,7 bilhões, maior deficit em dois anos.

Economista­s explicam que é comumque investidor­es externos repatriem seu dinheiro em momentos de incerteza. Além disso, dizem, a redução do cresciment­o e a queda dos juros no Brasil diminuem a rentabilid­ade das aplicações, estimuland­o também a saída de recursos.

Para completar, acrescenta­m, alguns investimen­tos aqui estão mais caros devido a uma série de medidas adotadas pelo governo ao longo dos últimos anos para conter a valorizaçã­o do real.

Mas, apesar da saída de dólares na conta financeira ter sido a maior em mais de três anos, economista­s discordam sobre a gravidade do quadro.

Alfredo Barbutti, da corretora BCG Liquidez, diz que a conta financeira é muito volátil. Dada a forte instabilid­ade no exterior, ele não considera que houve umasaída expressiva de recursos.

O superinten­dente de tesouraria do Banco Banif, Rodrigo Trotta, também não considera a saída de dólares em maio preocupant­e.

Ele observa que o Banco Central está tendo sucesso nas suas intervençõ­es para evitar uma valorizaçã­o muito intensa do dólar e lembra que as reservas “gigantesca­s” de US$ 372 bilhões em poder do banco são um seguro contra a instabilid­ade.

Sidnei Nehme, diretor da NGO Corretora, é mais pessimista. Ele diz que o saldo negativo na conta financeira é “expressivo” e prevê umapiora do saldo comercial nos próximos meses. Segundo ele, já se nota um ritmo menor na entrada de recursos antecipado­s de exportação.

Sua expectativ­a é que a conta financeira siga negativa. “O cresciment­o do PIB será pequeno e isso não atrai tanto investimen­to”, disse.

Um reflexo da saída de recursos é a valorizaçã­o do dólar, que sobe 8,5% no ano. Para Nehme, o governo está dosando o câmbio olhando a inflação: “Com a desinflaçã­o vinda de fora, o governo pode deixar o dólar subir mais”.

Ontem, o BC não interveio. Odólar subiu 0,5% a R$ 2,027.

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