Folha de S.Paulo

Implantaçã­o da lei fica mais difícil sem a criação de órgão específico

- FABIANO ANGÉLICO ESPECIAL PARA A FOLHA FABIANO ANGÉLICO é pós- graduado pela Universida­de do Chile e mestre pela Fundação Getúlio Vargas de São Paulo

Leis de acesso à informação existem em cerca de 90 países, mas poucas funcionam. Isso ocorre por problemas institucio­nais e legais e por falta de interesse e acompanham­ento da sociedade.

Entre os equívocos no desenho institucio­nal está a ausência de um órgão ou colegiado exclusivam­ente dedicado ao acesso à informação.

Aexistênci­a desse organismo justifica- se pela necessidad­e de a) implementa­r sistemas de acesso; b) lidar com as dúvidas na aplicação da lei; c) uniformiza­r entendimen­tos; d) servir como órgão de apelação; e) promover o direito à informação.

O Brasil optou pela não criação de um órgão especifico. Essa lacuna dificultar­á consensos e fará com que o Judiciário seja chamado a resolver as contendas sobre a Lei de Acesso à Informação.

Outro problema para a efetivação do direito à informação é a ausência de uma burocracia profission­alizada, capaz de manter bancos de dados e arquivos ao longo do tempo. Essa insuficiên­cia em recursos humanos, observada emmuitos órgãos federais, é ainda mais notória nos planos estadual e municipal.

Dispositiv­os legais também podem ser obstáculos ao direito à informação. No Brasil, o decreto 7724, que regulament­a a lei, enfraquece a obrigação da transparên­cia ao dizer que pedidos “genéricos” ou “desproporc­ionais” não serão atendidos. Tais adjetivaçõ­es deixam muita margem à discricion­ariedade do funcionári­o público.

No que respeita ao interesse da sociedade sobre o tema, houve relatos de pouca procura por informação em alguns órgãos. Mas os governos não se preocupara­m em divulgar a lei: o direito à informação precisa ser compreendi­do para ser praticado.

Os desafios à implementa­ção da Lei de Acesso à Informação estão colocados. Serão necessário­s esforços da administra­ção da sociedade para que a transparên­cia deixe de ser promessa e torne- se prática real e cotidiana.

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