Montadoras reagem, mas podem demitir
Produção de veículos sobe 7,6% em maio, mas estoques nos pátios ainda estão altos; GM incentiva demissão voluntária
Redução do IPI deve fazer mais efeito em junho; montadoras não descartam novos cortes, diz associação
A produção e a venda de veículos subiram em maio, mas os números ainda não foram suficientes para reverter o quadro de queda no ano.
Apesar do cenário de avanço, a Gm anunciou ontem um programa de demissões voluntárias na fábrica de São José dos Campos, em São Paulo — o primeiro para uma linha de automóveis do ano.
A Anfavea ( associação de montadoras) não descarta novos cortes. Eles se enquadram num cenário de alto nível de estoques do setor em geral e seguem ajustes semelhantes em linhas de produção de caminhões pelo país.
O estoque alcançou 43 dias em abril, o maior nível desde novembro de 2008.
O incentivo da GM às demissões, no entanto, vem num mês em que ela obteve o maior crescimento no número de licenciamentos entre as quatro principais: em maio, a alta foi de 32%, seguida pela Fiat ( 11%), pela Volks ( 7%) e pela Ford ( 1%).
ACORDO DE CAVALHEIROS
A manutenção de funcionários foi a contrapartida exi- gida pelo governo para incentivar o setor, responsável por 20% do PIB e com impacto em vários ramos da economia, da siderurgia à prestação de serviços.
A Fazenda informou que a redução do IPI previa a manutenção de empregos. “É um acordo de cavalheiros, mas que nós respeitamos”, diz Luiz Moan, diretor de assuntos institucionais da GM.
A Folha apurou que o governo foi avisado pela Gm que os desligamentos serão acompanhados de contratação em outras fábricas e que o nível de emprego será mantido.
De acordo com fontes do governo Dilma Rousseff, porém, se for considerado que o acordo não está sendo cumprido, a montadora poderá até perder os benefícios anunciados.
SINAIS CONTRÁRIOS
As medidas de estímulo do governo começaram a fazer efeito nos últimos dias de maio. No mês, houve alta de 11,5% nas vendas e de 7,6% na produção sobre abril. Em 12 meses, porém, houve queda de 9,8% nas concessionárias e de 7,7% nas fábricas.
O impacto do estímulo ficará mais claro em junho, com as vendas fechadas nos últimos dias de maio, nos quais as aprovações de crédito cresceram para 50%, ante 30% antes. As vendas nos feirões dobraram no período.
Aretomada fez os estoques caírem para menos de 40 dias, segundo a Anfavea. A entidade prevê o retorno para níveis normais, de até 35 dias, até o vencimento das medidas, em 31 de agosto.
Para o presidente da associação, Cledorvino Bellini, o nível menor de unidades nos pátios ajudará o emprego.
“Eventualmente alguma montadora pode ter problema. Como setor como um todo, eu vejo otimismo.”
O segmento de caminhões foi o primeiro a sofrer com os ajustes para o cenário de desaceleração. A queda nas vendas já chega 12,5% no acumulado do ano.
Scania, MAN, Ford ( caminhões) e Volvo fizeram algum tipo de ajuste, entre férias coletivas e redução de jornadas. A Mercedes- Benz afastou 1.500 funcionários. ( GABRIEL BALDOCCHI, LUCAS SAMPAIO E LORENNA RODRIGUES)