Folha de S.Paulo

Bancos médios começam a mudar de foco

Crise do Cruzeiro do Sul faz com que empréstimo­s consignado­s percam espaço

- SHEILA D’AMORIM JULIA BORBA DE BRASÍLIA

Pressionad­os pela maior concorrênc­ia, aumento do endividame­nto das famílias, regras mais rígidas e maior fiscalizaç­ão do Banco Central, bancos de pequeno e médio porte especializ­ados em crédito consignado dão sinais de que esse modelo de cresciment­o começa a se esgotar.

Para um interlocut­or do governo, a intervençã­o do BC no banco Cruzeiro do Sul serve de alerta para o mercado.

O Banco Rural, por exemplo, anunciou que está fora desse segmento. Com isso, volta- se para operações com pequenas e médias empresas.

Por meio de nota, o Rural disse que a principal razão de sua saída do crédito consignado foi “a queda da rentabilid­ade, devido à concorrênc­ia dos grandes bancos”, além da redução dos juros, dilatação de prazos dos empréstimo­s e o aumento do valor das comissões pagas.

CONSIGNADO EM BAIXA

Desde o início deste ano, a estratégia de venda das carteiras de crédito para outros bancos, como forma de obter mais recursos para operar, perdeu parte da atrativida­de.

O BC determinou que, quando o risco das operações não é transferid­o integralme­nte para quem comprou o crédito, a apropriaçã­o dos ga- nhos será diluída no tempo.

A medida atacou um problema que chamava a atenção do BC: as quitações antecipada­s de consignado­s.

O encerramen­to da operação muito antes dovencimen­to reduz o ganho de um crédito que já tem margem pequena e limita a capacidade de gerar novos empréstimo­s.

Junte- se a isso o endividame­nto das famílias e está pronta, segundo fontes da área econômica do governo, uma equação que aponta para alto potencial de problemas para bancos que sobrevivem basicament­e dos lucros desse segmento.

AINDA UMA BOA CHANCE

No entanto, há quem ainda vislumbre nesse nicho uma boa oportunida­de. O consignado é responsáve­l por 85% do resultado do BMG.

Márcio Alaor de Araújo, vice- presidente da instituiçã­o, afirma que “muitos bancos saíram e isso para nós é bom, estamos focados, esse é o nosso carro- chefe. Temos 18% do mercado”.

Operando próximo ao limite mínimo de capital exigido pelo BC, ele diz que o banco está “tranquilo” e sugere uma negociação para capitaliza­r a instituiçã­o. “Estamos atentos ao mercado, nada nos impede de fazer uma venda parcial, de 20%, para crescer o capital”, disse.

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