Folha de S.Paulo

Calçado brasileiro ‘ aniversari­a’ à espera das licenças para entrar na Argentina

- FELIPE BÄCHTOLD DE PORTO ALEGRE

Calçados brasileiro­s vendidos para a Argentina fizeram “aniversári­o” neste mês aguardando licença para entrar no país vizinho.

Cerca de 12 mil pares permanecem estocados em depósitos pelo Rio Grande do Sul desde junho de 2011, segundo a Associação Brasileira das Indústrias de Calçados ( Abicalçado­s).

No total, 1,7 milhão de pares vendidos a comerciant­es argentinos espera para sair do Brasil, diz a entidade.

A indústria afirma que a si- tuação se agravou com as regras adotadas pelo governo de Cristina Kirchner em fevereiro, exigindo mais papéis dos importador­es argentinos.

Avenda de calçados e componente­s à Argentina caiu 55% de janeiro a maio, em comparação com o mesmo período de 2011, segundo o Ministério do Desenvolvi­mento. A indústria fala em perdas de US$ 41 milhões.

Segundo a Abicalçado­s, o prejuízo acaba dividido entre exportador­es brasileiro­s e comerciant­es argentinos.

Odiretor- executivo da Abicalçado­s, Heitor Klein, diz que já há reflexos no nível de emprego do setor. A produção encolheu 6,6% somente no Rio Grande do Sul em2011.

“Agora são dois documentos concedidos de maneira independen­te. Há empresa que tinha um e ficou sem outro. É um caos montado de propósito para frustrar negócios brasileiro­s”, diz Klein.

Pelas regras da Organizaçã­o Mundial do Comércio ( OMC), as licenças não automática­s deveriam levar 60 dias para serem concedidas.

A fabricante de calçados masculinos Pegada, de Dois Irmãos ( RS), por exemplo, decidiu desativar a equipe de vendas em Buenos Aires em dezembro após problemas com a liberação de produtos.

A mercadoria antes destinada ao comércio argentino agora é vendida no Brasil.

“É melhor não vender e deixar quieto”, afirma o diretor, Astor Ranft.

No fim da década passada, algumas empresas brasileira­s decidiram abrir fábricas na Argentina para fugir das restrições.

O Ministério do Desenvolvi­mento disse que trabalha para remover as barreiras e que uma reunião com autoridade­s argentinas amanhã vai abordar o problema enfrentado por exportador­es.

No mês passado, o governo federal retaliou e criou barreiras na entrada de vinhos e frutas importadas.

AFolha procurou a Embaixada da Argentina, mas não conseguiu respostas.

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