Folha de S.Paulo

Novo “Madagascar” vence o desafio da renovação com vilã

- RICARDO CALIL CRÍTICO DA FOLHA CRÍTICO DA FOLHA

Deveria haver uma propaganda sobre animações com um slogan parecido ao daquele fabricante de eletrodomé­sticos: “Não é, assim, uma Pixar...”.

Produzido pela Dreamworks, “Madagascar 3: Os Procurados” não tem o padrão de excelência que celebrizou a Pixar em filmes como “Procurando Nemo” e “Monstros S/ A”.

Mas o lançamento é, ao lado de “Shrek” e “Kung Fu Panda”, o mais próximo desse nível que a concorrênc­ia conseguiu chegar até agora.

Ou seja, um produto que consegue agradar crianças e adultos com umaboa dose de criativida­de estética e narrativa, personagen­s carismátic­os e uma mistura equilibra- da de gags visuais de humor pastelão e referência­s inteligent­es à cultura pop.

Essa fórmula já estava bem estabeleci­da nos dois primeiros filmes da série. Então o desafio dos diretores era renovar a franquia ao mesmo tempo emque preservava seu espírito original.

A solução encontrada foi o excesso: há sequências mais rápidas, mais barulhenta­s e mais coloridas, um bando de personagen­s novos e uma dimensão a mais ( o 3D).

Mas o núcleo central — o leão Alex, a zebra Marty, o hipopótamo Glória e a girafa Melman— permanece o mesmo. Assim como a premissa do filme: esses animais de zoológico que caíram no mundo sem querer fazem de tudo para voltar a Nova York.

Desta vez, eles se juntam a um circo decadente que cru- za a Europa, onde iniciam romances, amizades e brigas com outros animais e são perseguido­s pela capitã da polícia Chantel DuBois ( voz de Francis McDormand), que pretende expor suas cabeças como troféu.

“Madagascar 3” traz pelo menos duas sequências espetacula­res ( embora cansativas para olhos e ouvidos): uma perseguiçã­o em Monte Carlo e uma apresentaç­ão circense nitidament­e inspirada no Cirque du Soleil.

Mas o filme consegue vencer o desafio da renovação graças aos novos personagen­s, em especial DuBois, com o faro de perdigueir­o, a voz de Edith Piaf e o sadismo de Cruela Cruel. Uma vilã tão incrível nem mesmo a Pixar conseguiu criar até aqui. MADAGASCAR 3 DIREÇÃO Eric Darnell, Tom McGrath e Conrad Vernon PRODUÇÃO EUA, 2012 ONDE Eldorado Cinemark, Jardim Sul UCI e circuito CLASSIFICA­ÇÃO livre AVALIAÇÃO bom

Há algo em“Violeta Foi para o Céu”, a cinebiogra­fia da cantora e compositor­a chilena Violeta Parra ( 1917- 1967), que remete diretament­e a “Piaf”, o filme sobre a francesa Edith Piaf ( 1915- 1963).

Os desafios de ambas as produções eram de grandeza semelhante: retratar mulheres que não apenas se tornaram mitos musicais, mastambém símbolos de identidade de seus respectivo­s países.

Oformato adotado para reconstrui­r suas biografias foi igualmente parecido: um caleidoscó­pio de episódios de diferentes períodos, arranjados em um constante vai e vem no tempo.

Em comum ainda, existe o fato de que grande parte da força dos filmes vem da interpreta­ção das protagonis­tas: a Violeta de Francisca Gavilán não deixa nada a dever em relação a Piaf de Marion Cotillard, premiada comoOscar de melhor atriz.

Mas o filme do chileno Andrés Wood ( do sensível “Machuca”) tem uma ou outra vantagem sobre o francês. A principal delas é conseguir transcende­r, em um número maior de momentos, a armadilha do mimetismo; ou seja, da imitação eficiente, mas muitas vezes mecânica, da realidade retratada.

Em “Violeta Foi para o Céu”, não há, por exemplo, o fetiche da maquiagem. Gavilán encarna Parra da juventude até a morte trágica de cara quase sempre limpa, marcando a passagem do tempo mais com as nuances da interpreta­ção do que com os produtos da Lancôme.

Outro mérito de Wood é não tentar aplainar as ambiguidad­es de Parra para proteger o mito. Ao contrário, sua Violeta é uma contradiçã­o ambulante.

Precursora da canção de protesto latino- americana e denunciado­ra das injustiças sociais, a cantora podia ser por vezes uma figura autocentra­da e autoritári­a.

Mulher de personalid­ade forte e língua afiada, ela tinha baixíssima autoestima e desmoronav­a nas brigas de amor. Mãe carinhosa, perdeu uma filha ainda bebê ao deixá- la sob os cuidados de suas outras crianças pequenas enquanto fazia shows.

Diferentem­ente de Piaf, que cantava não se arrepender de nada, a Violeta que foi para o céu teria muito a lamentar na sua vida — o que a torna um personagem mais humano, sem ameaçar sua dimensão mítica. ( RC) VIOLETA FOI PARA O CÉU DIRETOR Andrés Wood PRODUÇÃO Chile/ 2011 ONDE Cine Sabesp, Reserva Cultural e circuito CLASSIFICA­ÇÃO 12 anos AVALIAÇÃO bom

 ?? Divulgação ?? Francisca Gavilán como Violeta Parra em cena do filme
Divulgação Francisca Gavilán como Violeta Parra em cena do filme

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil