Novo “Madagascar” vence o desafio da renovação com vilã
Deveria haver uma propaganda sobre animações com um slogan parecido ao daquele fabricante de eletrodomésticos: “Não é, assim, uma Pixar...”.
Produzido pela Dreamworks, “Madagascar 3: Os Procurados” não tem o padrão de excelência que celebrizou a Pixar em filmes como “Procurando Nemo” e “Monstros S/ A”.
Mas o lançamento é, ao lado de “Shrek” e “Kung Fu Panda”, o mais próximo desse nível que a concorrência conseguiu chegar até agora.
Ou seja, um produto que consegue agradar crianças e adultos com umaboa dose de criatividade estética e narrativa, personagens carismáticos e uma mistura equilibra- da de gags visuais de humor pastelão e referências inteligentes à cultura pop.
Essa fórmula já estava bem estabelecida nos dois primeiros filmes da série. Então o desafio dos diretores era renovar a franquia ao mesmo tempo emque preservava seu espírito original.
A solução encontrada foi o excesso: há sequências mais rápidas, mais barulhentas e mais coloridas, um bando de personagens novos e uma dimensão a mais ( o 3D).
Mas o núcleo central — o leão Alex, a zebra Marty, o hipopótamo Glória e a girafa Melman— permanece o mesmo. Assim como a premissa do filme: esses animais de zoológico que caíram no mundo sem querer fazem de tudo para voltar a Nova York.
Desta vez, eles se juntam a um circo decadente que cru- za a Europa, onde iniciam romances, amizades e brigas com outros animais e são perseguidos pela capitã da polícia Chantel DuBois ( voz de Francis McDormand), que pretende expor suas cabeças como troféu.
“Madagascar 3” traz pelo menos duas sequências espetaculares ( embora cansativas para olhos e ouvidos): uma perseguição em Monte Carlo e uma apresentação circense nitidamente inspirada no Cirque du Soleil.
Mas o filme consegue vencer o desafio da renovação graças aos novos personagens, em especial DuBois, com o faro de perdigueiro, a voz de Edith Piaf e o sadismo de Cruela Cruel. Uma vilã tão incrível nem mesmo a Pixar conseguiu criar até aqui. MADAGASCAR 3 DIREÇÃO Eric Darnell, Tom McGrath e Conrad Vernon PRODUÇÃO EUA, 2012 ONDE Eldorado Cinemark, Jardim Sul UCI e circuito CLASSIFICAÇÃO livre AVALIAÇÃO bom
Há algo em“Violeta Foi para o Céu”, a cinebiografia da cantora e compositora chilena Violeta Parra ( 1917- 1967), que remete diretamente a “Piaf”, o filme sobre a francesa Edith Piaf ( 1915- 1963).
Os desafios de ambas as produções eram de grandeza semelhante: retratar mulheres que não apenas se tornaram mitos musicais, mastambém símbolos de identidade de seus respectivos países.
Oformato adotado para reconstruir suas biografias foi igualmente parecido: um caleidoscópio de episódios de diferentes períodos, arranjados em um constante vai e vem no tempo.
Em comum ainda, existe o fato de que grande parte da força dos filmes vem da interpretação das protagonistas: a Violeta de Francisca Gavilán não deixa nada a dever em relação a Piaf de Marion Cotillard, premiada comoOscar de melhor atriz.
Mas o filme do chileno Andrés Wood ( do sensível “Machuca”) tem uma ou outra vantagem sobre o francês. A principal delas é conseguir transcender, em um número maior de momentos, a armadilha do mimetismo; ou seja, da imitação eficiente, mas muitas vezes mecânica, da realidade retratada.
Em “Violeta Foi para o Céu”, não há, por exemplo, o fetiche da maquiagem. Gavilán encarna Parra da juventude até a morte trágica de cara quase sempre limpa, marcando a passagem do tempo mais com as nuances da interpretação do que com os produtos da Lancôme.
Outro mérito de Wood é não tentar aplainar as ambiguidades de Parra para proteger o mito. Ao contrário, sua Violeta é uma contradição ambulante.
Precursora da canção de protesto latino- americana e denunciadora das injustiças sociais, a cantora podia ser por vezes uma figura autocentrada e autoritária.
Mulher de personalidade forte e língua afiada, ela tinha baixíssima autoestima e desmoronava nas brigas de amor. Mãe carinhosa, perdeu uma filha ainda bebê ao deixá- la sob os cuidados de suas outras crianças pequenas enquanto fazia shows.
Diferentemente de Piaf, que cantava não se arrepender de nada, a Violeta que foi para o céu teria muito a lamentar na sua vida — o que a torna um personagem mais humano, sem ameaçar sua dimensão mítica. ( RC) VIOLETA FOI PARA O CÉU DIRETOR Andrés Wood PRODUÇÃO Chile/ 2011 ONDE Cine Sabesp, Reserva Cultural e circuito CLASSIFICAÇÃO 12 anos AVALIAÇÃO bom