Folha de S.Paulo

Falta de autoironia compromete achados da direção de “Satyricon”

- LUIZ FERNANDO RAMOS CRÍTICO DA FOLHA

Os poderes do teatro. “Satyricon, A Peça”, um de três espetáculo­s produzidos pela Cia. Os Satyros a partir de romance do ano 60 da era cristã, ironiza nossa época e testa os limites de afetação da arte cênica.

Petrônio, o provável autor dessa obra rara de que só sobreviver­am fragmentos, traça um panorama da vida mundana no Império Romano. A ação envolve dois amigos que disputam o amor de umjovem e belo escravo, sendo que um deles, por desfeita ao deus Priapo, amarga ao longo de peripécias uma humilhante impotência sexual.

O tom de sátira de costumes serve à adaptação dessa novela da antiguidad­e aos dias de hoje. O autor, Evaldo Mocarzel, verte a narrativa à forma dramática sem perder a riqueza da prosa original, que mescla registros elevados com a língua das ruas. Às vezes, força aproximaçõ­es com a atualidade que já eram óbvias na prosa e soa didático.

A encenação de Rodolfo García Vásquez, que inclui a instalação cênica “Trincha” — passeio pelas entranhas do espaço do grupo— e “Suburra” — vivência entre público e atores descrita como “balada cênica”—, opera o conceito de “teatro expandido”.

Vásquez encontra, no limitado espaço de que dispõe, belas soluções, e arranca do numeroso elenco que o apoia o melhor de seus esforços. Mas, emque pese o arrojo dos eventos paralelos, e a contaminaç­ão da montagem pela pesquisa sobre a prostituiç­ão masculina, nem sempre as opções do diretor são felizes.

Entre boas sínteses cênicas, como as dos episódios do banquete de Trimalquiã­o, do pós- naufrágio dos heróis ou da consulta à feiticeira, sobram muitas cenas que almejam traduzir- se em real ero- tismo, o que enfraquece o tom satírico do original, centrado nas agruras de um garotão impotente.

Focado em impactar os espectador­es, o elenco se afasta deles quando começam os jogos de excitação erótica, impostados e se levando a sério. Caberia, sim, mais autoironia, assumindo- se o que, de fato, pode o teatro. SATYRICON, A PEÇA QUANDO sex., às 21h, sáb. e dom., às 20h; até 22/ 7 ONDE Espaço dos Satyros 2 ( pça. Roosevelt, 134; tel. 0/ xx/ 11/ 3258- 6345) QUANTO de R$ 30 a R$ 50 CLASSIFICA­ÇÃO 18 anos AVALIAÇÃO bom

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Divulgação Imagem projetada no telão da peça
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Lenise Pinheiro/ Folhapress Atores em cena de “Satyricon, a peça”, da Cia. Os Satyros

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