Festival de Roterdã verá ‘ poeta radioativo’
Prestigiado evento de poesia conta com a participação do performer brasileiro Márcio- André em sua 43 ª edição Em 2007, artista fez performance arriscada na cidade fantasma de Pripyat, submetendo- se a contaminação nuclear
O poeta brasileiro MárcioAndré, 34, participa na próxima semana da 43 ª edição do Festival Internacional de Poesia de Roterdã, um dos mais importantes do mundo.
Radicado em Portugal, o artista é conhecido por seus trabalhos com poesia visual e sonora, instalações e performances, ou pelo peculiar epíteto de “o primeiro poeta radioativo do mundo”.
Em 2007, Márcio- André levou ao extremo sua veia performática e realizou a “1 ª Conferência Poético- Radioativa de Pripyat”, leitura de poemas entre os escombros da cidade fantasma, local mais afetado pelo acidente nuclear de Tchernobil ( em 1986).
Sozinho, ficou seis horas horas em frente ao antigo Palácio da Cultura, enquanto era contaminado pela radiação gama proveniente do césio- 137 que ainda paira sobre o local. O nível seguro de exposição à substância é de até duas horas.
“Ao ler os poemas, a própria poesia se fundiu com minhas células, assim como a usina, ao explodir em 1986, fundiu a cidade aos seus citadinos, através da radiação”, explica.
CONTAMINAÇÃO
Seu interesse no conceito de “contaminação” o levará agora ao mar de Aral — local desértico e tóxico entre o Cazaquistão e o Uzbequistão—, como parte do processo de escrita de um romance.
Os experimentos de Márcio- André caracterizam- se pela combinação de sofisticados procedimentos poéticos e atividades corporais muitas vezes extremas.
“Meu objetivo é dar protagonismo ao corpo e ao espaço, propondo a poesia como dança ritual e convertendo a arquitetura do lugar onde a performance é realizada em espaço de comunhão entre leitor e a poesia.”
EmRoterdã, Márcio- André participará de leituras poéticas e de uma mesa- redonda.
Esta edição traz como tema central a incompletude.
“Haverá debates sobre a poesia de Safo [ escritora da Grécia Abtiga], sobre a frase que Samuel Beckett tentou escrever em seu leito de morte, e sobre [ a poeta austríaca] Friederike Mayröcker e seu livro composto só por notas de rodapé”, afirma Bas Kwakman, diretor do festival.
“Todos os 20 poetas convidados falarão sobre o caráter do inacabado em suas obras literárias”, completa.
Kwakman destaca a busca da curadoria por poetas consagrados, mas principalmente por nomes com potencial de crescimento literário. “Desde a primeira edição, em 1970, temos a nata da poesia mundial. Por aqui já passaram Pablo Neruda, Octavio Paz, Joseph Brodsky e Czeslaw Milosz. Simplesmente oito vencedores de Nobel já participaram, e antes de serem laureados com o prêmio.”
O poeta e colunista da Folha Ferreira Gullar foi homenageado em 1998.