Rumo na economia depende mais do carimbo da presidente
DE BRASÍLIA
Apesar da indicação de mudanças na equipe econômica em um eventual segundo mandato, a mensagem da campanha de Dilma Rousseff não dá sinais de abalo nas convicções da presidente.
Nas palavras da petista na quinta ( 4), “eleição nova, go- verno novo, equipe nova”. Na véspera, falou em “atualização das políticas e das equipes”. Trata- se de mais um passo numhesitante caminho rumo a algo parecido com autocrítica. Dilma tem admitido também não estar “plenamente satisfeita” com os resultados de seu mandato.
Afinal, o país apresenta hoje sintomas de recessão, no pior desempenho de umquadriênio de estagnação da renda nacional combinada com inflação elevada.
Dilma praticamente explicita a troca de Guido Mantega e sua equipe na Fazenda — o que, imagina- se, pode elevar a credibilidade dos anúncios e previsões oficiais. Mais obscuro, porém, é o que seria a tal “atualização das políticas”.
O ainda ministro está irremediavelmente associado a promessas de melhora daeconomia e de controle dos gastos públicos sempre descumpridas em pouco tempo. Mas nãoéMantegaquemdáascartas napolítica econômica, me- nosaindaopresidentedoBanco Central, Alexandre Tombini — é a economista Dilma, centralizadora de decisões.
O carimbo presidencial está em todas as estratégias executadas pela Fazenda e pelo BC nos últimos anos: expansão acelerada dos gastos públicos com abandono das metas fiscais; redução das taxas de juros ( depois revertida) com abandono da meta de inflação; estímulo ao consumo e ao investimento por meio do crédito oferecido pe- los bancos públicos; represamento de tarifas para evitar o estouro da inflação, com perda para as estatais.
Se fracassou ao tentar reanimar a economia e gerou inflação e desalento dos empresários, essa miscelânea intervencionista permitiu manter o desemprego embaixa e programas assistenciais em alta.
E esse é o trunfo central da campanha de Dilma, que se gaba de enfrentar a crise internacional semperda de empregos e “arrocho” dos salários.
A petista já deu provas de acreditar no acerto de suas escolhas — diferentemente de Lula e FHC, que mudaram equipes, políticas e orientações sem remorsos.
OcomprometimentodeDilma com as teses de seu mandato foi intensificado pela necessidade de se contrapor, na campanha, à agenda liberal abraçada por Marina Silva ( PSB) e Aécio Neves ( PSDB).
Atacou, por exemplo, as propostas de conceder autonomia ao BC e restabelecer as metas de inflação. Ou, emoutras palavras, defendeu a tutela do BCpelo Planalto e a tolerância comaaltadospreços.