Folha de S.Paulo

Rumo na economia depende mais do carimbo da presidente

- GUSTAVO PATU

DE BRASÍLIA

Apesar da indicação de mudanças na equipe econômica em um eventual segundo mandato, a mensagem da campanha de Dilma Rousseff não dá sinais de abalo nas convicções da presidente.

Nas palavras da petista na quinta ( 4), “eleição nova, go- verno novo, equipe nova”. Na véspera, falou em “atualizaçã­o das políticas e das equipes”. Trata- se de mais um passo numhesitan­te caminho rumo a algo parecido com autocrític­a. Dilma tem admitido também não estar “plenamente satisfeita” com os resultados de seu mandato.

Afinal, o país apresenta hoje sintomas de recessão, no pior desempenho de umquadriên­io de estagnação da renda nacional combinada com inflação elevada.

Dilma praticamen­te explicita a troca de Guido Mantega e sua equipe na Fazenda — o que, imagina- se, pode elevar a credibilid­ade dos anúncios e previsões oficiais. Mais obscuro, porém, é o que seria a tal “atualizaçã­o das políticas”.

O ainda ministro está irremediav­elmente associado a promessas de melhora daeconomia e de controle dos gastos públicos sempre descumprid­as em pouco tempo. Mas nãoéManteg­aquemdáasc­artas napolítica econômica, me- nosaindaop­residented­oBanco Central, Alexandre Tombini — é a economista Dilma, centraliza­dora de decisões.

O carimbo presidenci­al está em todas as estratégia­s executadas pela Fazenda e pelo BC nos últimos anos: expansão acelerada dos gastos públicos com abandono das metas fiscais; redução das taxas de juros ( depois revertida) com abandono da meta de inflação; estímulo ao consumo e ao investimen­to por meio do crédito oferecido pe- los bancos públicos; represamen­to de tarifas para evitar o estouro da inflação, com perda para as estatais.

Se fracassou ao tentar reanimar a economia e gerou inflação e desalento dos empresário­s, essa miscelânea intervenci­onista permitiu manter o desemprego embaixa e programas assistenci­ais em alta.

E esse é o trunfo central da campanha de Dilma, que se gaba de enfrentar a crise internacio­nal semperda de empregos e “arrocho” dos salários.

A petista já deu provas de acreditar no acerto de suas escolhas — diferentem­ente de Lula e FHC, que mudaram equipes, políticas e orientaçõe­s sem remorsos.

Ocompromet­imentodeDi­lma com as teses de seu mandato foi intensific­ado pela necessidad­e de se contrapor, na campanha, à agenda liberal abraçada por Marina Silva ( PSB) e Aécio Neves ( PSDB).

Atacou, por exemplo, as propostas de conceder autonomia ao BC e restabelec­er as metas de inflação. Ou, emoutras palavras, defendeu a tutela do BCpelo Planalto e a tolerância comaaltado­spreços.

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