Folha de S.Paulo

Polícia de NY usará câmeras em serviço

Objetivo de projeto- piloto da prefeitura é monitorar eventuais excessos de agentes durante abordagens nas ruas

- ISABEL FLECK DE NOVA YORK

Mortes de garoto negro no Missouri e de novaiorqui­no por policiais fizeram imagem da instituiçã­o piorar

Até o fim do ano, 60 policiais de Nova York terão, de forma voluntária, suas ações monitorada­s por câmeras presas ao uniforme enquanto estiverem em serviço.

A ideia do programa- piloto é que as câmeras capturem todas as abordagens policiais, para monitorar se há excesso por parte dos agentes. Se der certo, o sistema será estendido a toda a polícia.

A medida foi anunciada após a grande repercussã­o da morte do jovem negro Michael Brown, 18, por um policial em Ferguson, no Missouri, e da comoção após o assassinat­o do também negro Eric Garner, 43, durante umaabordag­em da polícia de Nova York.

Depois desse caso, a aprovação do trabalho dos policiais da cidade caiu para 50%, o pior índice em 14 anos, segundo uma pesquisa da Universida­de Quinnipiac.

O número de queixas contra a polícia subiu 11,5% nos últimos quatro anos ( comparados os meses de janeiro a julho), de acordo com levantamen­to do Civilian Complaint Review Board, organi- zação civil que monitora as denúncias contra a polícia. Só as acusações de uso excessivo da força subiram 18%.

Garner, um morador de Staten Island que estaria vendendo cigarros contraband­eados e tinha asma, morreu em 17 de julho ao ter pescoço e peito comprimido­s durante batida policial. Um laudo da própria prefeitura de Nova York apontou homicídio.

Nos últimos dias, o chefe da polícia de NY, William Bratton, tem defendido mu- danças no treinament­o e na ação dos agentes — do qual já faz parte o teste com as câmeras, “por alguns meses”.

Em 2013, um juiz federal havia ordenado que a polícia testasse as câmeras por um ano, mas a decisão foi sus- pensa por uma apelação. Bratton, no entanto, decidiu estabelece­r o projeto- piloto por se tratar de algo “muito importante para esperar”.

O prefeito democrata, Bill de Blasio, foi um dos principais críticos do rigor e da “seleção” — negros e latinos seriam o principal alvo— aplicados por policiais na prática do “stop and frisk” ( pare e reviste) emgestões passadas.

Dois tipos de câmeras serão usadas no teste: a Vievu, do tamanho de umpager, que pode ser usada na parte da frente da camisa, e a Taser, menor, que pode se acoplar a um óculos, boina, capacete ou na ombreira da farda.

Com o projeto, a polícia de Nova York será a maior do país a usar a tecnologia. A de Los Angeles também está testando as câmeras, que já são usadas em cidades como San Francisco e Las Vegas.

Para o principal sindicato de policiais de Nova York, Bratton precisa explicar melhor o monitorame­nto: quando deverão ser ligadas as câmeras, por exemplo. “Os policiais não têm nada a esconder, mas ainda há questões sem resposta de ordem prática”, disse o presidente do sindicato, Patrick J. Lynch.

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Andrew Burton - 21. ago. 2014/ Getty Images/ AFP Letitia James, defensora pública de NY, apresenta sistema de câmeras que policiais da cidade passarão a usar nas ruas

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