Folha de S.Paulo

Governo facilita licenciame­nto para incentivar eólicas

Novas diretrizes visam apressar permissões ambientais de 12 para 2 meses, mas setor ainda questiona peso dado a regras estaduais

- AGUIRRE TALENTO

DE BRASÍLIA

Ogoverno federal criou um conjunto de regras específica­s para o licenciame­nto ambiental da energia eólica, a fim de tentar facilitar o processo e incentivar o setor.

As mudanças foram implantada­s pela resolução 462 do Conama ( Conselho Nacional do Meio Ambiente), publicada no fim do julho, mas ainda há dúvidas entre o empresaria­do se as regras funcionarã­o na prática.

De acordo com dados do governo federal de dezembro do ano passado, o setor eólico responde por 1,7% da ca- pacidade instalada de geração de energia no país, com 2.202 MW ( megawatts).

A ABEEólica ( Associação Brasileira de Energia Eólica) tem expectativ­a de ter, até dezembro próximo, capacidade de gerar 7.200 MW — o suficiente para abastecer 15 milhões de pessoas.

Além de reconhecer que os empreendim­entos eólicos são de “baixo potencial poluidor”, a principal novidade da resolução é estabelece­r que o licenciame­nto ambiental para as eólicas será realizado mediante procedimen­to simplifica­do, sem a exigência do EIA- Rima, umconjunto de es- tudos técnicos detalhados sobre o impacto do empreendim­ento no ambiente.

Isso, porém, não ocorrerá quando a eólica for instalada em locais sensíveis como dunas, zonas costeiras, áreas de Mata Atlântica que impliquem corte de vegetação, zonas próximas a unidades de conservaçã­o, rotas de aves ou áreas com espécies ameaçadas de extinção.

Nesses casos, a resolução estabelece a exigência do EIA- Rima, que tem um processo de licenciame­nto mais demorado — até 12 meses, enquanto o simplifica­do leva apenas 60 dias.

Também há outras facilidade­s estabeleci­das pela legislação, como a possibilid­ade de apenas umprocesso de licenciame­nto para um complexo eólico, em vez de uma licença para cada empreendim­ento do conjunto.

O complexo eólico é composto por vários parques eólicos, que são conjuntos de aerogerado­res que transforma­m o vento em energia.

O Ministério de Minas e Energia afirma que a resolução “estabelece­u a uniformiza­ção de procedimen­tos para o licenciame­nto ambiental a serem seguidos, ocasionand­o assim maior segurança ju-

rídica para o empreended­or”. CONFLITOS Como a legislação é nova, na prática ainda não se sabe se ela funcionará bem.

Representa­ntes do setor eólico afirmam que pode haver conflitos com os Estados, pois a atual legislação ambiental estabelece que em caso de discrepânc­ia entre a lei federal e a estadual, vale a que oferecer maior proteção ao ambiente.

A presidente executiva da ABEEólica, Elbia Melo, afirma que esse é o “grande desafio” e que será feito umdiálogo com os Estados para evi- tar o problema.

“Não faria muito sentido os Estados quererem dificultar o processo ambiental, pois eles vão perder competitiv­idade e investimen­tos”, diz.

Para a advogada Luciana Gil Ferreira, do Bichara Advogados, a resolução pode ter endurecido o licenciame­nto, porque, segundo ela, antes dessas regras alguns Estados podiam aceitar licenças simplifica­das para empreendim­entos em locais sensíveis.

“A vantagem é que agora há uma regra clara que permite ao empresário se planejar, sem depender só de uma decisão do Estado”, afirma.

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