Marina reúne eleitores de espectros diferentes
Dilma tem a maior participação de esquerdistas na sua base política, o que ajuda a explicar sua queda nas pesquisas
DIRETOR- GERAL DO DATAFOLHA
DIRETOR DE PESQUISAS DO DATAFOLHA
A pesquisa divulgada neste domingo ( 7) pelo Datafolha mostra o quanto a população se posiciona na disputa presidencial por meio do debate de ideias.
O que pode, em primeiro momento, figurar como um paradoxo — candidaturas que se dizem de esquerda liderando umcenário que tende à direita— é na verdade um indicador de amadurecimento dos eleitores.
Revela a capacidade dos brasileiros em identificar nuances em discursos de diferenças rasas, muitas vezes dominados por ruídos intencionais e sem fidelidade ideológica.
Uma leitura das evoluções no período já confirma essa hipótese. A maioria dos que pretendem votar em Dilma, por exemplo, não se enquadra nas categorias de direita.
A presidente é a candidata commaior participação de esquerdistas na composição de seu eleitorado. Não surpreende, portanto, o fato de que, no mesmo período em que a taxa de entrevistados com classificação à direita subiu seis pontos, o índice de intenção de voto da presidente te- nha caído sete. Emnovembro do ano passado, Dilma tinha 42% das intenções de voto no cenário com Marina e hoje tem 35%.
Como a classificação se baseia em opiniões sobre temas polêmicos, existe necessidade de observar emquais pontos há mudanças de posicionamento do eleitorado e explorar correlações com os acontecimentos dos últimos dez meses.
Um dos itens com maior variação nesse espaço de tempo, por exemplo, e que contribuiu para o crescimento dos direitistas refere- se ao papel dos sindicatos.
A imagem da instituição entre os brasileiros piorou desde o final de 2013, reflexo talvez da onda de greves que antecedeu a realização da Copa no país, como a da polícia em Pernambuco e do transporte público em São Paulo e no Rio, amplamente reverberadas pelo noticiário. DISCURSO BIPOLAR Mas são as posições dos eleitores de Marina Silva em relação aos temas apresentados que melhor ilustram o debate da corrida presidencial deste ano. Ora com opiniões próximas às dos eleitores de Dilma, ora composições mais parecidas com os de Aécio Neves, o segmento reflete o discurso bipolar de sua candidata.
Os que escolhem a ambientalista condenam tanto quanto os petistas a posse de ar- mas e a falta de oportunidade para os pobres, mas defendem, tanto quanto os tucanos, a redução de impostos e menor interferência do governo na economia.
Não é a toa que a ex- ministra do Meio Ambiente atrai 32% dos que são classificados de direita e 35% dos centro- direita, ante 30% e 32% de Dilma nesses estratos.
Como também não parece ser apenas um aceno a empresários a declaração da presidente sobre o futuro de sua equipe de governo. Considerando a realidade do eleitorado, parece mais, como diria o Leão da Montanha, uma saída estratégica à direita.