Todo poder ao espectador
pão) e à BBC ( Reino Unido), que já tinham adquirido os direitos.
Peço desculpas por ocupar este espaço comalgumas linhas sobre cinema, mas é interessante observar esta outra dimensão de um fenômeno que se pensa exclusivo da televisão.
A ideia de que o espectador não apenas assiste, mas também participa como ator- produtor do espetáculo que é a sua própria vida, se tornou nos últimos anos objeto das mais variadas experiências.
Na corrida para se equiparar com a internet, a televisão tem se desdobrado ao propor ações “colaborativas” — frequentemente pagando o preço com vexames antológicos.
Para se igualar à internet, TV propõe ações ‘ colaborativas’ que muitas vezes resultam em vexames antológicos
Transmissões de Carnaval ou futebol, por exemplo, nas quais o espectador é convidado a enviar um vídeo para a emissora, se tornaram campeões de piada e constrangimentos. O “amigo internauta” que manda perguntas para Galvão Bueno virou um personagem folclórico dentro e fora da televisão.
Igualmente, a ideia de reproduzir na tela da TV mensagens postadas por espectadores nas redes so- ciais tem se revelado um atentado à credibilidade. Normalmente, apenas elogios aparecem, dando uma ideia totalmente equivocada da diversidade que ocorre no Twitter e no Facebook durante a exibição de determinados programas.
Isso sem falar da infinidade de programas que exibem quadros ou atrações baseados em vídeos do YouTube. São sempre apresentados como “a última novidade”, fingindo ignorar que até a avó do produtor já viu o vídeo no computador do neto, quando não no seu próprio laptop.
Há, é verdade, iniciativas bem- intencionadas, comooprojeto “Parceiros do SPTV”, colocado em prática pelo noticiário local da Globo ( também há uma versão no “RJTV”). A emissora selecionou, depois treinou e equipou 16 jovens de diferentes partes da cidade para produzir relatos jornalísticos de suas comunidades.
Reportagens de qualidade têm sido feitas, seja denunciando mazelas, seja enaltecendo boas práticas, mas não deixa de passar a impressão, sempre, dequeoprojetocumpremais umafunção de marketing do que jornalística, propriamente. Fosse, de fato, essencial, seria incorporado ao noticiário e não apareceria apenas como uma iniciativa temporária.
Este esforço da TV ( e do cinema) em buscar cumplicidade com o espectador é legítimo e expressa um evidente incômodo. A esta altura, talvez não haja outra solução, a não ser correr atrás de quem está produzindo conteúdo por conta própria. mauriciostycer@ uol. com. br
@ mauriciostycer