Folha de S.Paulo

Empresas fazem encolhimen­to estratégic­o

Abrir mão de filiais, clientes ou produtos para enfatizar negócios que dão mais faturament­o é opção comum

- FILIPE OLIVEIRA

O importante não é o faturament­o em si, lembra consultor, mas a comparação entre ele e os custos da empresa

DE SÃO PAULO

Seis meses após abrir a empresa de cachorro- quente Wdog, em 2011, Wesley Machado tinha três unidades em diferentes shoppings de São Paulo, além de cerca de 30 funcionári­os.

Mas o negócio dava prejuízo. A solução foi fechar duas delas e ficar com três funcionári­os noshopping de Itaquera ( zona leste de São Paulo).

“Fiz rápido três unidades porque tinha capital para investir e achava meu produto diferente. Acabei sendo muito apressado, por querer ver a coisa acontecer antes de es- tar madura”, afirma.

Para Machado, o principal problema da empresa era a falta de uma seleção criteriosa e de treinament­o para os profission­ais. Hoje, com uma unidade, a empresa fatura quatro vezes mais do que antes e é lucrativa, segundo o proprietár­io.

Apesar de ser importante se preocupar com o cresciment­o da empresa e buscar vender mais, em alguns momentos empreended­ores passam por situações como a de Machado, em que ser menor é a melhor solução para voltar a ter números positivos.

O consultor do Sebrae- SP Julio Tadeu Alencar sugere que a análise para saber se esse é o caso de uma empresa seja feita olhando primeiro para seus custos fixos, como aluguel e folha de pagamento, e para as projeções de venda da empresa.

Se, mesmo vendendo bem, ficar nítido que ela não conseguiri­a pagar seus custos, será preciso reduzi- los para ajustar a equação.

O ideal é que o empresário olhe mais para o lucro do que para o faturament­o de sua empresa. Sempre que necessário, o ajuste deve ser feito, diz Márcio Iavelberg, da consultori­a Blue Numbers. ANALISAR OS CLIENTES Umdos pontos de atenção sugeridos pelo consultor é a lucrativid­ade oferecida por cada um dos clientes atendidos ou pelos produtos vendidos pela empresa.

Um dos problemas mais frequentes é que a empresa se apegue a um grande comprador, mesmo que seu lucro na operação seja pequeno.

Foi o que aconteceu com a empresa Mix Confecções, de Daniel Kamamoto, 37. A companhia produzia uma proteção para calçados usa- da em laboratóri­os para uma empresa. Essas vendas representa­vam entre 40% e 60% do faturament­o mensal de sua companhia.

Depois de fechar um ano no vermelho, Kamamoto analisou suas contas e viu que tinha pouco lucro com este

Tive um pouco de receio, foi uma coisa impactante para todos. Quando os funcionári­os notam que você tira o pé do acelerador, pensam que a empresa estava quebrando, indo mal das pernas

DANIEL KAMAMOTO

proprietár­io da Mix Confecções cliente: as margens nessas vendas eram de 4%, enquanto nas demais eram de 15%.

Além disso, diz que os grandes investimen­tos necessário­s para atender essa única empresa minavam o capital de giro.

Kamamoto decidiu então abrir mão de atender esse cliente, o que significou também ter de demitir 3 dos 18 funcionári­os que a confecção empregava:

“Tive receio, foi uma coisa impactante para todos. Quando os funcionári­os notam que você tira o pé do acelerador, pensam que a empresa está quebrando, indo mal das pernas”, diz o empresário. REFORMULAÇ­ÃO Marcio Flores, 35, presidente- executivo do Grupo M, de agências de publicidad­e, diz que a redução na empresa ocorrida no início desse ano veio acompanhad­a por uma mudança de cultura. Isso porque, mesmo crescendo emfaturame­nto, a empresa perdeu dinheiro em 2013.

O grupo passou de 70 funcionári­os para 35, abriu mão de um dos três andares que ocupava em um prédio e mudou sua forma de trabalhar. “Passamos a analisar, a dizer que certas reuniões custaram R$ 10 mil, por exemplo, por terem gasto tempo de determinad­o número de profission­ais”, afirma.

Também mudaram o perfil de clientes e contrataçõ­es. “No mercado em que atuamos, todos querem ter grandes contas que pagam umvalor mensal e que exigem muita atenção. Abrimos mão delas, pois nos davam umamargem muito curta.”

Segundo Flores, a companhia normalizou sua situação financeira — e pagou bônus no último semestre para os que ficaram.

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Robson Ventura/ Folhapress Wesley Machado, proprietár­io da Wdog

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