Folha de S.Paulo

Dilma sugere contenção de gasto e cerco à inflação

Presidente indica austeridad­e na condução da economia, sem detalhar medidas

- IGOR GIELOW DIRETOR DA SUCURSAL DE BRASÍLIA NATUZA NERY TARIFAÇO

A presidente Dilma Rousseff afirmou que o governo vai “ter de fazer o dever de casa” e apertar o controle da inflação. A petista sugeriu que fará contenção de gastos ao dizer que vai “olhar com lupa” as “várias contas que podem ser reduzidas”, mas não detalhou medidas.

Ao ser questionad­a sobre se apoiava ataques do seu partido contra Aécio Neves ( PSDB), Dilma respondeu: “Eu não represento o PT. Represento a Presidênci­a”.

Ela negou que pretenda regular conteúdo da mídia, mas afirmou ser necessário evitar monopólios.

Petista rejeita acusação de adversário­s que apontam seu discurso cauteloso como prova de estelionat­o eleitoral

A presidente Dilma Rousseff disse nesta quinta- feira ( 6) que o governo vai “ter de fazer o dever de casa” e apertar o controle da inflação, mas seguiu enigmática sobre como fará para recolocar o Brasil em rota de cresciment­o.

Ela negou veementeme­nte quepratiqu­e “estelionat­o eleitoral”, como diz a oposição, ao defender agora ajustes para recuperar a economia.

“Vamos ter de fazer nosso dever de casa aqui. Apertar o controle da inflação. Vamos ter limites dados pela nossa restrição fiscal para fazer toda uma política anticíclic­a que poderia ser necessária agora. Mas vamos ter limites”, disse Dilma, usando o jargão para momentos de crise em que o governo investe para reanimar a economia.

Dilma recebeu oito jornalista­s de veículos impressos no Palácio do Planalto. Mais descontraí­da, ela usou poucas vezes o tradiciona­l “meu querido”, cacoete que denota a impaciênci­a da petista. Inflação “Nós temos problema interno comainflaç­ão.” Dilmaprome­teu combater a alta de preços, mas se recusou a falar sobre a alta de juros promovida pelo Banco Central semana passada. Apenas adiantou que“não pretende mexer nos intervalos de tolerância da meta de inflação”, nem tampouco no seu centro, atualmente de 4,5%.

“As pressões estão começando a ficar mais diluídas, uma vez que os preços internacio­nais estão cadentes”, disse, acrescenta­ndo quetudo indica que a seca diminuirá no Nordeste e no Sudeste. Ajuste “Temos que fazer ajustes em várias coisas, não é só cortar gastos”, afirmou Dilma, recusando- se a dar mais detalhes. “Várias contas que podem ser reduzidas”, e que ela promete “olhar com lupa”. Em seguida, criticou a defesa de austeridad­e do PSDB. “Essa visão de corte de gastos é similar àquela ideia maluca de choque de gestão. Eu não vendo o que não consigo entregar.” Corte de ministério­s “Outra lorota”, disse Dilma. Segundo ela, umaredução no número de pastas não traria economia real e ainda afetaria áreas envolvidas no plano de concessões, como portos e aeroportos. “Não tiro o ministério da Micro e Pequena Empresa nem que a vaca tussa”. Já a “Pesca não saiu do chão ainda. Ela vai decolar”. Gastos A presidente não quis especifica­r quais contas reduzirá, masapontou comoopção mexer nas regras de pensão por morte, tornando- as mais rígidas, e nas regras do seguro

Onde é que está o tarifaço? Ele já aconteceu! Essa história de que nós represamos [ tarifas] é lorota. Ao longo do ano inteiro houve pagamento pelo uso de [ usinas] térmicas

Vamos ter de fazer o nosso dever de casa aqui. Apertar o controle da inflação, vamos ter limites dados pela nossa restrição fiscal para fazer toda uma política anticíclic­a que poderia ser necessária agora

desemprego, hoje “umgrande patrocinad­or de fraudes”. Sobre abono salarial, não quis sinalizar o que poderia fazer. Depois, brincou: “Euvoulevar em consideraç­ão a sugestão da imprensa”. Estelionat­o Ela negou que o reconhecim­ento da necessidad­e de um ajuste para retomar o cresciment­o da economia configure estelionat­o eleitoral, como acusa a oposição. “Onde é que está o tarifaço? Ele já aconteceu! Essa história de que nós represamos [ tarifas] é lorota. Ao longo do ano inteiro houve pagamento pelo uso de [ usinas] térmicas. O governo suavizou um pouco para não ser aquele impacto.”

Ela não inclui na sua conta o financiame­nto tomado pelas empresas de energia, que deverá impactar na conta do ano que vem. Cresciment­o “Esse é o grande desafio nosso, e eu não acho que tem uma receita prontinha que nós devemos segui- la à risca para crescer”, disse. Maspromete­u “nãodesempr­egar”.“Aminha esperança é que o Brasil terá uma recuperaçã­o. Enquanto isso, espero queomundot­ambém tenha.” Estados Unidos “Os pragmático­s cresceram. Quemsão os pragmático­s? Os Estados Unidos são o pragmático dos pragmático­s. ‘ Não salvem empresas privadas [ fala como numa terceira pessoa]!’ Eles vão lá e salvam a indústria automobilí­stica. ‘ Não coloque esta quantidade de moedas na economia’. Eles vão lá e colocam. ‘ Não salvem bancos!’. Eles vão lá e salvam.” Ministro da Fazenda Dilma afirmou que ainda não fez nenhum convite para o ministério. Questionad­a sobre a possibilid­ade de nomear Luiz Trabuco, executivo do Bradesco cogitado para a Fazenda, ela contou: “Eu conversei comele umavez [ desde a eleição], eu não minto, ele me disse simplesmen­te que me cumpriment­ava e, como sempre, ao longo de todo o processo, que estava disponível para ajudar no que fosse necessário, não significan­do isso que ele estava se oferecendo para nada. Ele estava sendo gentil, damesmafor­ma que o Abílio Diniz e outros tantos”. Ela prometeu anunciar sua nova equipe econômica ao retornar do G20, sem definir data exata, mas antes do resto do novo ministério. Crise mundial “Os emergentes têm ainda espaço para voltar a crescer”, afirmou, semdeixar de avaliar que um quadro mais permanente de queda no preço das commoditie­s internacio­nais afetará “feio a América Latina”, que pode “sofrer” com redução de demanda.

Questionad­a se o ano de 2015 verá um “tsunami” ou uma “marolinha”, para usar o termo de Lula, disse: “Não bota isso na minha boca porque isso foi de um outro momento, de início da crise”.

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