Folha de S.Paulo

Direitos e favores

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RIO DE JANEIRO - A revelação de que bancos deixaram de pagar R$ 200 milhões em impostos, graças a uma operação em Luxemburgo, prova outra vez que o buraco tributário brasileiro é mais em cima. Sem cortar na carne ( ou seja, nos bolsos) dos mais ricos, pouco cairá a desigualda­de social.

Também prova como carece de bom senso a rejeição de parte da classe média, dos abastados e dealas da imprensa ao Bolsa Família. Oprograma, que atende pessoas comrenda mensal entre R$ 77 e R$ 154, custa hoje R$ 2,3 bilhões, ou 0,5% do PIB. A sonegação fiscal em 2013 foi de R$ 415 bilhões, quase 200 vezes mais. E se estima em R$ 500 bilhões a deste ano.

Com o Bolsa Família, circula dinheiro onde não havia, o que alimenta o comércio e cria empregos.

Norte e Nordeste ganham proporcion­almente, mas São Paulo é o segundo Estado em números absolutos: 1.270.203 famílias contemplad­as.

Deixaram o programa, por conta própria, 1,7 milhão de famílias. Já filhas de magistrado­s e militares não costumam abrir mão das suas pensões. A taxa de fecundidad­e cai em todo o país, mais ainda no Norte e no Nordeste. Não se sustenta a ideia de que mulheres têm mais filhos por causa do benefício.

No Brasil, privilégio­s são vistos como direitos, e direitos são vistos como favores. Não se rompe essa lógica perversa danoite para odia, masé tarefa prioritári­a para quem diz querer unir o país.

Acorrupção não vem só da máíndole de pessoas e partidos, mas de uma sistemátic­a desqualifi­cação do que é público. Se a sociedade nãoadmite que todos tenham direito sequer a coisas básicas ( comida, luz, moradia, saúde), sempre haverá espertalhõ­es dessa sociedade — pois não são alienígena­s— que transforma­rão emseu aquilo que deveria ser nosso.

O Bolsa Família pertence ao país. A corrupção também.

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