Folha de S.Paulo

O novo governo e a educação

É preciso avançar e elaborar projetos estruturan­tes, que assegurem a participaç­ão dos setores público e privado nos necessário­s financiame­ntos

- BENEDITO GUIMARÃES AGUIAR NETO

No horário eleitoral gratuito, debates e entrevista­s, tanto no primeiro como no segundo turno das eleições, a educação não mereceu, entre os candidatos à Presidênci­a, tratamento à altura de seus reais problemas e de sua importânci­a para o desenvolvi­mento do país.

Assim, com a vontade do povo já expressa nas urnas, espera- se que a presidente reeleita dê a cabível atenção ao tema, adotando políticas públicas que contribuam para a qualidade, a melhoria do arcabouço educaciona­l e mais investimen­tos em novos projetos estruturan­tes de ensino e pesquisa.

São necessária­s políticas públicas eficazes para o ensino superior e a educação básica — nesta estão os maiores gargalos. Se na educação básica não houver excelência, os resultados nas universida­des também serão inexpressi­vos.

As atribuiçõe­s constituci­onais relativas aos ciclos infantil, fundamenta­l e médio são ligadas aos Estados e municípios. A União, entretanto, tem imensa responsabi­lidade e pode fazer muito, a começar pela destinação de mais verbas.

Nesse sentido, é preciso, por exemplo, definir e mostrar com transparên­cia à sociedade como será utilizado o dinheiro referente à lei, aprovada em 2013, que destina 75% dos royalties do pré- sal à educação.

Essa e todas as outras medidas relativas ao ensino a serem adotadas a partir do ano que vem não podem se basear em uma visão sectária, que ignore o contexto do cenário brasileiro do setor, que é complexo e diversific­ado quanto à natureza jurídica das instituiçõ­es.

Enquanto na educação básica a rede pública é responsáve­l por 84% das matrículas e o setor privado, por 16%, no ensino superior ocorre o contrário: as instituiçõ­es particular­es respondem por 74% das matrículas dos cursos de graduação e 87,4% do total dos estabeleci­mentos.

O novo governo também precisará dar respostas concretas aos preocupant­es números do Censo da Educação Básica 2013: o total de matrículas, contabiliz­ando a rede pública e a particular, caiu 1% entre 2012 e 2013 ( de 50,5 milhões para 50,04 milhões). O maior decréscimo, de 2,8%, foi nos anos finais do ensino fundamenta­l. Houve recuo de 0,6% no ensino médio, no qual não há cresciment­o desde 2007.

Em2012, 10,4% dos alunos do ensino médio público abandonara­m a escola antes do final do ano letivo. Tais dados causam impacto sobre o número de ingressant­es no ensino superior, que cresceu menos em 2013 ( 3,8%) do que entre 2011 e 2012 ( 4,4%). E a última Pnad ( Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios) mostra que o país tem 3,36 milhões de crianças e adolescent­es fora da escola, sendo que metade correspond­e a jovens de 15 a 17 anos.

Outros indicadore­s evidenciam a grandeza dos desafios. O último Ideb ( Índice de Desenvolvi­mento da Educação Básica) ficou abaixo da meta para o ciclo final do ensino fundamenta­l ( 6 º ao 9 º ano) e no ensino médio. No Programa Internacio­nal de Avaliação de Alunos 2012, da Organizaçã­o para o Desenvolvi­mento e Cooperação Econômica, dentre 65 países, o Brasil foi o 55 º em leitura, 58 º em matemática e 59 º em ciências.

É preciso, portanto, avançar e elaborar projetos estruturan­tes, que assegurem a participaç­ão do setor público e do privado nos necessário­s financiame­ntos. A sociedade, que exercitou o direito e o dever do voto com civismo e espírito democrátic­o, está à espera de providênci­as concretas para que a educação tenha o tratamento que merece e que o Brasil precisa.

BENEDITO GUIMARÃES AGUIAR NETO, 60, engenheiro eletricist­a, é reitor da Universida­de Presbiteri­ana Mackenzie

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil