Folha de S.Paulo

Renegociaç­ão de dívida de Estados fará União perder R$ 59 bilhões

Projeto que dá desconto nas dívidas de Estados e municípios beneficia principalm­ente as prefeitura­s endividada­s

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Para os Estados, regra aprovada pelo Senado só produzirá efeitos nas finanças daqui a mais de uma década DE BRASÍLIA DE PORTO ALEGRE DE CURITIBA DE SÃO PAULO

O governo federal vai ter que dar um desconto de R$ 59 bilhões nas dívidas de Estados e municípios por causa da mudança no índice que corrige o saldo dos débitos que foram renegociad­os na década de 1990.

Pelos cálculos da equipe da presidente Dilma Rousseff, esse será o principal im- pacto para os cofres federais com a aprovação, na quartafeir­a ( 5), da nova lei. Atualmente, governador­es e prefeitos devem à União cerca de R$ 500 bilhões.

Com o desconto, o governo passará a receber menos a partir do próximo ano. As contas iniciais indicam que a receita de 2015 ficará R$ 1 bilhão menor. Ainda não foram divulgados cálculos sobre o impacto nos próximos anos.

A maior parte do desconto vai para as prefeitura­s: pelo menos R$ 34 bilhões.

São Paulo deve ser a cidade mais beneficiad­a, com cerca de dois terços desse valor. Com isso, afirma que poderá pagar toda a dívida até 2030, no prazo do contrato.

O alívio permitirá ao prefeito Fernando Haddad ( PT) contrair novos empréstimo­s e aumentar investimen­tos e outros gastos.

O benefício para as prefeitura­s foi garantido com a aprovação do artigo que manda o governo recalcular todo o estoque da dívida desde a assinatura dos contratos, no final da década de 1990, até janeiro do ano passado.

Nestes casos, o governo vai trocar a variação acumulada pelo IGP- DI mais 6%a 9% ao ano pela alta da taxa básica de juros ( Selic) do período.

A segunda parte do desconto, de R$ 24 bilhões, será garantida pela troca do índice de correção das dívidas a partir de janeiro de 2013, ou- tro ponto aprovado na quarta pelo Senado.

Nesse caso, o IGP- DI mais juros de 6%a 9% será trocado pelo IPCA ( índice oficial de inflação) mais 4% ou taxa Selic, o que for menor. ESTADOS Essa segunda mudança beneficia basicament­e os Estados. Para eles, a troca do IGPDI mais juros pela taxa básica de juros ( Selic) será benéfica, especialme­nte no longo prazo. Nos Estados mais endividado­s do país, a troca do indexador da dívida não vai provocar um efeito imediato nas finanças.

O mesmo acontecerá com São Paulo, o mais populoso, onde estimativa­s da Secreta- ria de Fazenda apontam uma queda no fluxo de pagamentos só a partir de 2027.

O Rio Grande do Sul é o líder do endividame­nto no país, com uma relação dívida/ receita acima do limite de 200% fixado em lei.

Para o governo mineiro, a vantagem da mudança é que o saldo devedor deixará de crescer, ao contrário do que acontece hoje.

No Rio, o governo estadual afirma que agora há uma perspectiv­a de quitar os débitos com anos de antecedênc­ia. A estimativa anterior era que a dívida fosse quitada apenas em 2039. Agora, passou para 2028.

Em São Paulo, a expectativ­a é quitar a dívida um ano antes: o prazo era 2037. Amudança na legislação reduzirá o saldo da dívida do Estado em R$ 50 bilhões.

Devido a um acordo com a União firmado nos anos 90, os governos do Rio, Minas e Rio Grande do Sul hoje precisam destinar 13% de suas receitas líquidas para quitar antigos débitos.

O governador do Rio Grande do Sul, Tarso Genro, estima que a alteração aprovada no Congresso gere um abatimento de pelo menos R$ 15 bilhões sobre o valor que precisará ser quitado no fim da próxima década. “Esse espaço fiscal nos abre a possibilid­ade de trazer para os cofres do Estado US$ 1 bilhão em investimen­tos.”

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