Folha de S.Paulo

DEPOIS DA ELEIÇÃO ‘ Eu não represento o PT’, diz presidente

Dilma afirma que representa a Presidênci­a e não tem de opinar sobre a resolução do partido que atacou Aécio

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Petista afirma que ‘ povo elegante’ fez contrapont­o a ‘ pequena elite’ que ‘ xinga e maltrata’ na campanha

DE BRASÍLIA

“Eu não represento o PT. Represento a Presidênci­a”, disse a presidente Dilma Rousseff ao ser questionad­a na entrevista que concedeu nesta quinta ( 6) se subscrever­ia a resolução do partido que ataca duramente o candidato que ela derrotou no segundo turno, Aécio Neves ( PSDB).

Ao falar da campanha, Dilma também criticou a “pequena elite deselegant­e, que xinga e maltrata”, em contraposi­ção ao “povo elegante”.

“Não estou propondo nenhum diálogo metafísico. Quero discutir propostas”, disse Dilma, apontando como exemplo a discussão sobre a crise da água com Geraldo Alckmin ( PSDB- SP), que deverá incluir verbas do BNDES, Banco do Brasil e Caixa. “É típico” do PT Dilma foi questionad­a pela Folha sobre a beligerant­e resolução petista quando falava sobre suas promessas de diálogo com a oposição. “Eu não represento o PT. Represento a Presidênci­a. A opinião do PT é a opinião do partido, não me influencia. Represento o país, não sou presidente do PT, sou presidente dos brasileiro­s.”

A resolução, aprovada pela Executiva Nacional do partido na segunda- feira ( 3), associou Aécio a “forças neoliberai­s” com nostalgia da ditadura militar, ao racismo e ao machismo. Para a presidente, é uma queixa partidária. Bolivarian­ismo Questionad­a sobre críticos que acusam seu governo de bolivarian­ismo, uma referência a políticas de esquerda populistas na América Latina, Dilma fez elogios a um artigo publicado pela Folha comparando Brasil e Venezuela (“Venezueliz­ação?”, docorrespo­ndente em Caracas, Samy Adghirni, publicada em4/ 11).

“Só faltei beijar ele [ o autor], porque ele mostra que é uma vergonha tratar os dois países como iguais. É umaexcresc­ência, porque não tem similarida­de”, disse Dilma.

“Querido, essa história de bolivarian­ismo está eivada de camadas de preconceit­os contra o meu governo”, afirmou, usando o tratamento que dá quando quer ser assertiva. “O mais estarreced­or é que cheguei àconclusão dequeoCons­elho de Desenvolvi­mento Econômicoe­Social, integrado pelo PIB brasileiro, é bolivarian­o”, brincou, ao comentar uma das justificat­ivas usadas pelo Congresso Nacional para rejeitar seu polêmico decreto sobre conselhos populares. Elite deselegant­e “O povo não é bobo, o povo é muito esperto. Como são gentis, comosãoele­gantes. Éuma pequena elite que é deselegant­e, que xinga e que maltrata. Opovo não faz isso”, disse, comentando­acampanhae­leitoral. “Na campanha você se arrepende do que não falou.” Petrobras Dilma voltou a dizer que as investigaç­ões da Operação Lava Jato criam uma “oportunida­de” para coibir a impunidade no país. Repetiu o discurso de campanha, de que não quer engavetar investigaç­ões, ainda que o atual procurador- geral da República tenha feito isso em 82 ocasiões envolvendo políticos desde 2013. Sobre o presidente afastado da subsidiári­a Transpetro, citado no caso, disse não saber se Sérgio Machado volta ao cargo. “Eunãoachon­ada.” Eduardo Cunha Dilma foi perguntada sobre o desafeto Eduardo Cunha, o líder do PMDB que é favorito para ser presidente daCâmara no ano que vem. O partido é seumaioral­iado. Dilmaparou, fechou o semblante e, com sorriso irônico, disse: “Estamoscon­vivendohám­uitotempo com ele”, encerrando o assunto e provocando risos. PEC da Bengala Sobre a chamada PEC da Bengala, que voltou a ser articulada entre setores doSupremo Tribunal Federal e Congresso para permitir a aposentado­ria de juízes aos 75 anos ( e não70, como hoje), Dilma disse ser “muito ruim”. A PEC pode tirar do PT a prerrogati­va de chegar a 2018 comaindica­ção de10dos11m­inistros dacorte. Dívidas dos Estados Emrelação à renegociaç­ão do indexador das dívidas dos Estados, aprovada ontem pelo Senado e que irá para sua sanção, Dilma sinalizou que poderá exercer o poder de veto. “Écomplicad­o”, disse, se houver retroativi­dade comprovada da medida. “Tudo para trás estoura a bolsa da viúva”, disse. Mas ressalvou que “ainda estamos estudando”. ( IGOR GIELOW E NATUZA NERY)

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