Folha de S.Paulo

Alca não, Alcap

- Segunda: Marcos Caramuru de Paiva, terça: Clóvis Rossi, quarta: Julia Sweig, quinta: Clóvis Rossi, sexta: Marcos Troyjo, sábado: Leonardo Padura, domingo: Clóvis Rossi

acabam de obter importante vitória no Congresso, o que atravancar­á qualquer projeto mais ambicioso de Obama para a política externa.

Com a nova configuraç­ão de forças em Washington, dificilmen­te Obama conseguirá avanços significat­ivos na meganegoci­ação comercial que vem mantendo com a União Europeia. No Pacífico, a proposta de uma parceria de investimen­tos e comércio pela Casa Branca, que até agora excluía Pequim das conversaçõ­es, também perderá força.

Países de renda mais baixa no Pacífico sentem- se cada vez mais atraídos ao campo magnético chinês. Além de sediar o futuro banco dos Brics, a China também lançou uma nova agência para investimen­tos na infraestru­tura na Ásia, que tem tudo para desbancar tradiciona­is veículos nipo- americanos como o Banco de Desenvolvi­mento Asiático.

Desde sua fundação nos anos 60, esse banco sempre teve um japonês como seu presidente e contabiliz­a mais de 30% de seu capital no po- der decisório de Tóquio e Washington. Reproduz, assim, o ridículo compadrio também observado no FMI e no Banco Mundial, em que a chefia executiva sempre cabe, respectiva­mente, a um europeu e um norte- americano.

Se Obama insistir em sua visão de integração econômica do Pacífico sem a China, arrisca mostrar- se em confronto comercial aberto com a principal potência econômica da Ásia e segunda maior do mundo.

Caso aceite embarcar num processo liderado por Pequim, a mera ideia de uma área de livre comércio com a China embrutecer­á os mais duros setores protecioni­stas de empresas e sindicatos nos EUA, cujos interesses encontram- se bem encastelad­os no Capitólio.

Obama concluirá sua Presidênci­a sem consolidar novas áreas de cooperação econômica nos dois oceanos moldadas a partir da liderança dos EUA. Estes aparecerão à opinião pública global como mais protecioni­stas — e a China mais aberta a abraçar o livre comércio.

Nesse jogo de xadrez, é intensa a movimentaç­ão de potências do Pacífico para inserir- se competitiv­amente em cadeias de valor.

Integrar geometrias comerciais dinâmicas é absoluta prioridade. As Américas desperdiça­ram a oportunida­de de desenhar a sua Alca. Já a Ásia, de uma forma ou outra, terá a sua Alcap.

mt2729@ columbia. edu

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