Folha de S.Paulo

G20 anunciará pacote contra manobra fiscal de empresas

Países querem que bancos deem informaçõe­s mais claras sobre tributos

- CLÓVIS ROSSI Luxemburgo, que sediou operações para cortar impostos

Medida seria forma de coibir casos como os que envolvem Luxemburgo, revelados ontem pela Folha

COLUNISTA DA

IKEA A Folha tratou apenas dos documentos relativos a empresas brasileira­s, mas entre os demais papéis está o caso da Ikea, multinacio­nal sueca de mobiliário e produtos para casa, que talvez seja mais ilustrativ­o.

De acordo com os documentos liberados, as lojas australian­as da Ikea tiveram um movimento de mais de US$ 4,76 bilhões ( R$ 11,92 bilhões) entre 2002 e 2013, mas

FOLHA

A cúpula do G20 adotará, no próximo fim de semana, um pacote de medidas para coibir malabarism­os fiscais como o que a Folha apontou nesta quinta ( 6), envolvendo os bancos Itaú e Bradesco.

Trata- se de um acordo entre as maiores economias do mundo, que formam o G20, para exigir dos bancos um “padrão comum de informação”, ou seja, que os bancos identifiqu­em e informem assuntos tributário­s de seus correntist­as não residentes.

No caso dos bancos brasileiro­s, uma simples troca de papéis resultou numa economia de R$ 200 milhões nos impostos pagos pelo Bradesco e pelo Itaú- Unibanco.

Essas operações foram concluídas em 2008 e 2009 em Luxemburgo, um pequeno paraíso fiscal europeu.

A prática é conhecida como elisão fiscal — deixar de pagar impostos usando ao máximo todas as brechas que a lei oferece. Não se trata, em princípio, de um crime. Tampouco é algo novo, mas desta vez tudo está comprovado e detalhado em 1.028 documentos inéditos que expõem essas operações de uma forma nunca antes vista.

Tanto Bradesco como ItaúUniban­co negam ter celebrado acordos para pagar menos tributos no Brasil. pagaram comissões a subsidiári­as daprópria empresaem Luxemburgo e na Holanda.

Com isso, a Ikea declarou lucro antes do pagamento de impostos de apenas US$ 103 milhões ( R$ 258 milhões), do que resultaram magros US$ 31 milhões ( R$ 77,7 milhões) em impostos, embora suas vendas tenham crescido 500% no período.

O G20 também aprovará um pedido ( portanto, não obrigatóri­o, ao contrário do padrão comum de informação) para que as empresas multinacio­nais detalhem suas atividades país por país.

Os dados não seriam públicos, mas reservados às autoridade­s tributária­s.

Seria a maneira de evitar casos como o da Ikea, que lucra muito em um país, mas declara atividades em outro, com taxação baixa ou inexistent­e, um mecanismo que é eufemistic­amente chamado de “profit shifting” ou transferên­cia de lucros.

Um cálculo preliminar feito pela ONG Oxfam informa que esses dois malabarism­os fiscais custam US$ 114 bilhões ( R$ 285,7 bilhões) anuais em perda tributária para os países em desenvolvi­mento.

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