Folha de S.Paulo

SP, MG e RJ batem recorde de queimadas em outubro

Forte alta é causada pela prolongada estiagem, que resseca a vegetação

- MARCELO LEITE DE SÃO PAULO

SP deve ter neste ano o maior número de focos já registrado, superando 1999, quando a queima de canaviais era maior

Amazônia? Não. Sudeste, Centro- Oeste e parte do Sul é que estão em chamas.

Ao final de um outubro seco, os Estados de Minas Gerais, São Paulo e Rio de Janeiro bateram recordes de queimadas para o mês.

Rio de Janeiro e Rio Grande do Sul, aliás, já ultrapassa­ram os totais anuais — faltando ainda dois meses para o fim de 2014— registrado­s desde 1998. São Paulo e Minas também deverão superar suas marcas históricas.

As 11.867 queimadas de Minas em2014 se aproximam do recorde anual, 13.853, em2007.

A prolongada estiagem na região, que resseca a vegetação, favorece a propagação do fogo. Muitos incêndios são acidentais, provocados por queima descuidada de resíduos vegetais e lixo.

Muitas queimadas, porém, são usadas para “limpar” pastos, preparar roças e facilitar a colheita manual da cana- de- açúcar. Outras, ainda, servem para abrir novas áreas para plantio ou preparar desmatamen­tos.

Minas Gerais é o caso mais sério. Até o último dia 31, o monitorame­nto do Inpe ( Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais) registrara 4.735 focos de queima, 106% acima da média para outubro ( 2.299) e ultrapassa­ndo até o máximo para esse mês ( 4.424).

“Com mais dois meses para fechar o ano e a prolongada estiagem, novos recordes anuais poderão ser confirmado­s”, estima Alberto Setzer, responsáve­l pelo monitorame­nto dos focos de queima no Inpe ( Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais).

São Paulo tem números menores, mas não menos preocupant­es. Foram 887 em outubro, 124 a mais que o máximo para o mesmo mês na série histórica ( 763).

É provável que a marca anual seja rompida no Estado, pois 2014 já acumulou em terras paulistas um total de 4.606 focos de calor. Faltam menos de mil eventos para superar o máximo anterior — 5.459, de 1999, quando a queima de canaviais ainda predominav­a ( hoje há um acordo para encerrar a prática em 2017).

Em seguida aparece o Estado do Rio de Janeiro, com 1.372 focos até o dia 23, ou 21% além da pior cifra já anotada ( 1.133, em 2011). O único Estado do Sudeste a passar raspando pela prova de fogo é o Espírito Santo, que só está ligeiramen­te acima das médias anual e mensal.

Dois Estados do CentroOest­e sugerem preocupaçã­o: Goiás e Tocantins. Embora ainda estejam distantes dos números máximos já registrado­s, em outubro estouraram todas as marcas. Tocantins teve 4.000 focos, contra o máximoante­rior de3.680, eGoiás presenciou 1.947 queimas, contra o recorde de 1.831.

Os maiores números absolutos de queimadas em 2014, porém, pertencem a Mato Grosso ( 26.584), Pará ( 23.816) e Maranhão ( 19.469). Mato Grosso se destaca porque grande parte desses registros ocorreram mesmo sob um decreto estadual que proibiu o uso do fogo de 15 de julho a 30 de setembro.

O Brasil todo teve até 31 de outubro 156 mil focos, ou uma queima para cada 55 km ² de território. A maioria desses casos se deu em contravenç­ão às legislaçõe­s ambientais federal, estadual e municipal.

Além disso, os dados do Inpe se referem só aos sensores de um satélite, o Aqua, referência para comparar o monitorame­nto ao longo dos anos. Na realidade, o total de casos de uso do fogo na vegetação é muito superior, talvez até dez vezes maior. Os milhões de reais emmultas aplicadas pelo Ibama e secretaria­s estaduais surtiram pouco efeito.

Por 13 dias, o Parque Nacional da Serra dos Órgãos, na região de Petrópolis ( RJ), teve mais de 5.000 hectares ( 50 km ² ) atingidos pelo fogo criminoso. Só arrefeceu com a chegada da chuva.

Dezenas de outras áreas de preservaçã­o no país também foram afetadas, como o Parque Estadual doJalapão ( TO),com ao menos40% daárea de cerrado queimada neste ano.

No final de outubro, uma nuvem de fumaça com cerca de 1 milhão de quilômetro­s quadrados cobriu boa parte de São Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerais e Goiás. Sudeste, Sul e Centro- Oeste ardem.

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