Folha de S.Paulo

Emvez de se resignarem, mineiros investiram

Cruzeiro e Atlético- MG perceberam que vinham perdendo os títulos porque o eixo Rio- São Paulo tinha mais receita

- PAULO VINÍCIUS COELHO Torcida do Cruzeiro recebe a delegação do clube mineiro na volta de Santos, nesta quinta ( 6), no aeroporto de Confins

COLUNISTA DA

FOLHA

Ser mineiro é não dizer o que faz nem o que vai fazer.

E talvez por isso, como no poema de Carlos Drummond de Andrade, tenha- se demorado tanto para perceber que Minas manda no futebol brasileiro há dois anos. A final da Copa do Brasil entre Atlético e Cruzeiro não é o início desse processo. Nem o fim.

“Mineiro só acredita na fumaça quando vê o fogo.” Drummond era um gênio. A fumaça começou em 2012, quando o Atlético contratou Ronaldinho Gaúcho, e o Cruzeiro foi buscar o diretor- executivo Alexandre Matos, ex- América.

O Galo já estava ousando, e o Cruzeiro aprendia a agredir, o que faltou no primeiro ano do presidente Gilvan Tavares, quase rebaixado pouco depois de tomar posse.

Diferentem­ente do que Drummond escreveu, os mineiros arriscaram apesar de não terem certeza. “O Cruzeiro percebeu que não adiantava ter umestádio espetacula­r sem um time do mesmo nível”, diz Matos. “Contratamo­s o Ronaldinho, deu certo e criou- se umciclo virtuoso”, afirma o presidente do Atlético, Alexandre Kalil.

Em 2011, o Cruzeiro só não foi rebaixado no Brasileiro porque goleou o Atlético por 6 x 1 na última rodada — o Galo terminou em 15 º lugar.

No ano seguinte, o Atlético foi vice- campeão, e o Cruzeiro ficou emnono. Em2013, o Cruzeiro ganhou o Brasileirã­o, e o Atlético venceu a Taça Libertador­es. SUPREMACIA RIO- SP? Matos foi criticado no Cruzeiro por aumentar os salários e a dívida. Mas a receita cresceu, o que também aconteceu no Galo. Hácinco anos, discutia- se como se sairia da mais longa supremacia Rio- SP.

Em 1959, o Bahia foi campeão da Taça Brasil e, sete anos depois, o Cruzeiro venceu o torneio. Só entre 2004 e 2012, com oito Campeonato­s Brasileiro­s divididos entre cariocas e paulistas, houve hegemonia maior.

Inter e Grêmio pareciam próximos de quebrar a escrita. Os mineiros a quebraram.

Drummond também escre- veu que ser mineiro é ter coragem e bravura. Quanto mais investiam, mais cruzeirens­es e atleticano­s arrecadava­m. A TV hoje paga mais pa- ra Cruzeiro e Atlético do que para Palmeiras e Vasco. No pay- per- view, ganham mais do que o São Paulo.

Os mineiros não vão explicar muito mais sobre o ciclo virtuoso que se criou porque mineiro não estica conversa com estranho. Mas está claro que em Minas o ovo nasceu antes da galinha.

Os clubes radiografa­ram que perdiam porque o eixo Rio- SP tinha mais receita. Em vez de se acomodarem, Cruzeiro e Atlético investiram.

“Nos últimos cinco anos, o Atlético ganhou 18 títulos em divisões de base”, lembra Kalil. Jémerson e Carlos são titulares indiscutív­eis do Galo finalista da Copa do Brasil. Na Toca da Raposa, Mayke, Lucas Silva e Allison saíram da base para brilhar.

Como também diria Drummond, “ser mineiro é vender queijos e possuir bancos.”

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