Manguel encerra evento em SP com homenagem a Primo Levi
Escritor foi destaque do ciclo de palestras Fronteiras do Pensamento
Prisioneiro no campo de concentração alemão de Auschwitz, durante a Segunda Guerra ( 1939- 45), Primo Levi ( 1919- 87) agarrou umpequeno bloco de gelo que havia se formado numa das janelas. Queria matar a sede.
Porém, um soldado se interpôs e arrancou- odesuasmãos. “Por quê?”, perguntou Levi. De maneira seca, o soldado disse: “Aqui não há porquê.”
O episódio seria contado depois pelo autor italiano nos escritos em que tentou compreender racionalmente a terrível experiência de ser um prisioneiro do nazismo.
Para oescritor argentino Alberto Manguel, 66, que encerrou na quarta- feira ( 5) o evento Fronteiras do Pensamento, emSãoPaulo, os livros queLevi lera antes de ser capturado, sobretudo a obra de Dante Alighieri, o ajudaram a atravessar os anos de cativeiro.
“Levi nunca pôde entender o ‘ porquê’ do episódio do gelo. Apoesia não nos dá respostas e não nos devolve mortos, mas pode agitar algo dentro de nós. Pode acender umaflama que nos permita atravessar o incompreensível. Aconteceu com Levi. Sua experiência foi a mais definitiva pela qual passou um leitor.”
Na segunda ( 3), Manguel falou, no mesmo evento, em Porto Alegre, da experiência de ter lido emvoz alta para um já cego Jorge Luis Borges ( 1899- 1986). Em SP, porém, o autor se concentrou em Levi.
“Não repito palestras para não me aborrecer”, explica. “As pessoas sempre fazem as mesmas perguntas sobre a minha relação com Borges, por isso vario um pouco.”
O Fronteiras do Pensamento anunciará sua programação para 2015 no começo do ano. Está previsto, além de eventos em Porto Alegre, São Paulo, Florianópolis e Salvador, um pequeno festival a ser realizado num local do interior de Minas Gerais.