Folha de S.Paulo

Leia “Dilma mudando”, acerca de perspectiv­as para o segundo mandato, e “Obama acuado”, a respeito de eleições realizadas nos Estados Unidos.

- Opinião A2

A derrota dos democratas nas eleições desta semana já havia sido prevista pelas pesquisas de opinião, mas a escala do estrago foi sob todos os aspectos surpreende­nte. Os republican­os assumiram o controle do Senado, elevaram significat­ivamente sua maioria na Câmara e, de quebra, ainda conquistar­am quatro governos estaduais que se encontrava­m sob a administra­ção de correligio­nários do presidente Barack Obama.

Omaiorsímb­olo doencolhim­ento democrata é a Câmara, onde os republican­os, que já haviam recuperado a maioria em 2010, abocanhara­m mais 14 cadeiras. Abancada passou para 243 deputados de umtotal de 435, a maior vantagem sobre os democratas desde o governo de Harry Truman ( 1945- 53).

Diante de um Congresso hostil, com a popularida­de em baixa e sendo responsabi­lizado pelos democratas pela derrota histórica do partido, Obama terá enormes dificuldad­es para promover a sua agenda nos dois anos de mandato que ainda lhe restam.

A história política americana mostra que presidente­s tendem a perder protagonis­mo no final de suas administra­ções. Existe até um termo para designar o fenômeno: “lame duck” ( pato manco). Sem o Congresso a favor, o carimbo vira quase uma fatalidade.

Nodiscurso, tanto Obamaquant­o a liderança republican­a prometeram diálogo para evitar a paralisia, mas governo e oposição encontram- se em rota de colisão em vários temas, com destaque para o plano de saúde universal criado pelo presidente. Outro choque iminente é a reforma imigratóri­a, que vem sendo barrada na Câmara pelos republican­os.

Obama já anunciou que poderia recorrer a ordens executivas ( algo parecido com a nossa medida provisória) para avançar na matéria. Em resposta, o futuro líder da maioria no Senado, Mitch McConnell, tido como moderado, disse que esse caminho envenenará a água do poço no Legislativ­o.

Apesar de sair da eleição diminuído, Obama ainda tem algum espaço de manobra. Um dos caminhos é promover uma agenda que conte com apoio de parte significat­iva dos republican­os, como um acordo comercial com países do Pacífico e medidas para reduzir o deficit no Orçamento.

O presidente democrata poderia também priorizar ações de política externa, menos dependente­s dos ventos do Congresso. Uma solução permanente para o conflito na Síria ou umacordo nuclear com o Irã seriam legados históricos para qualquer líder norte- americano, pato manco ou não.

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