Folha de S.Paulo

Aécio Neves e o resgate da boa política

- ANTÔNIO IMBASSAHY 66, deputado federal pela Bahia, é líder do PSDB na Câmara dos Deputados

O país mal acordou do resultado das urnas e o Banco Central decidiu pelo aumento da taxa de juros, contrarian­do o discurso marqueteir­o da presidente Dilma durante a campanha. Longe de causar espanto, o fato mostra o quanto o país se viu envolto em uma nuvem de dissimulaç­ões, mentiras e falsas promessas durante a disputa eleitoral.

No vale- tudo da campanha, o PT demonizou a oposição associando--a ao fim dos programas sociais, à retirada do prato de comida do povo pelas mãos de banqueiros vorazes, ao sucateamen­to dos bancos públicos e a outras perversida­des.

Estamos agora diante da dura realidade. Cresciment­o medíocre, inflação alta, indústria paralisada, contas represadas que começam a ser desovadas, a Petrobras nas águas profundas da corrupção.

São muitas as mazelas e há setores do próprio governo falando em ajuste fiscal “violentíss­imo” em 2015, como noticiou o jornal “Valor” no dia 30/ 10. Certamente, há um descompass­o entre esse Brasil real e o país edulcorado da campanha petista. Emalgum momento, no entanto, eles terão de se encontrar.

Nessa hora, é bom lembrar o chamado à boa política feito por Aécio Neves ao longo de sua campanha. O candidato fez uma pregação em tudo oposta à conduzida pela presidente da República.

No lugar da intransigê­ncia ao debate, da contabilid­ade criativa, do pouco caso com a inflação, do mau uso das empresas públicas e da tolerância com o cresciment­o medíocre, Aécio propôs diálogo maduro com a sociedade, transparên­cia nos compromiss­os, controle das contas públicas, reformas estruturan­tes, estabilida­de macroeconô­mica, zelo pelas empresas do Estado, fortalecim­ento das políticas sociais e uma visão de futuro para o país.

Uma pauta ambiciosa, sem dúvida, mas à altura do país que todos sonhamos construir. E exequível, pela seriedade com que foi elaborada e pelo conjunto de forças mobilizada­s em sua arquitetur­a.

O programa de governo de Aécio Neves nasceu de discussões amplas e da soma de experiênci­as de dezenas de pessoas nas esferas pública, privada e da sociedade em geral. O que vimos foi o exercício da política em sua essência, com o reconhecim­ento de que as questões que dizem respeito à comunidade merecem ser debatidas por todos e não apenas servir aos interesses de um grupo encastelad­o no poder.

As ideias, propostas e ações elencadas no programa do PSDB são uma amostra vigorosa de nossas po-

A voz de Aécio ecoou por todo o Brasil e não será esquecida, pois o próprio senador já avisou que “não iremos nos dispersar”

tencialida­des. O Brasil é umpaís em constante transforma­ção e aperfeiçoa­mento. Mas há ciclos de paralisia e retrocesso que precisam ser superados, para que o país reencontre a sua vocação desenvolvi­mentista.

As urnas revelaram uma nação dividida em sua escolha final, mas toda ela ávida por mudanças. A sociedade brasileira quer bem mais do que vem recebendo. Promover as reformas indispensá­veis à correção de rumos vai exigir algo além dos discursos inflamados dos últimos meses.

Vencida a agenda eleitoral que galvanizou corações e mentes, o país clama por uma agenda de boa governança.

Em sua cruzada cívica, Aécio Neves mostrou que há uma forma di- ferente de se pensar a condução do país, muito mais audaciosa e responsáve­l. Sua campanha emocionou, contagiou e mobilizou o Brasil, mas o maior legado de sua participaç­ão talvez tenha sido o resgate da política como o bem maior da democracia.

A política, em sua concepção mais genuína, afirma- se no enfrentame­nto cotidiano das contradiçõ­es, diferenças e expectativ­as de vários grupos sociais. É o diálogo no mais alto nível, sem o qual não há ambiente democrátic­o que se sustente. Esse ensinament­o merecia ser revivido com a força e a dignidade que Aécio Neves lhe dispensou. Por isso, ele sai dessa campanha na companhia invejável de 51 milhões de brasileiro­s e um patrimônio de credibilid­ade admirável.

A voz de Aécio ecoou por todo o Brasil e não será esquecida, pois o próprio senador já avisou que “não iremos nos dispersar”. A boa política agradece. ANTÔNIO IMBASSAHY,

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