Folha de S.Paulo

A frustrada aliança entre PT e PSDB

No final de 1993, organizei um movimento de aproximaçã­o entre PT e PSDB. Até hoje me pergunto como seria o país se o processo tivesse prosperado

- ODED GRAJEW

No final de 1993, as eleições gerais se aproximava­m. O país estava traumatiza­do pelos escândalos da era Collor. Eu achava que PT e PSDB deveriam tentar construir uma aliança política. Lideranças dos dois partidos estiveram juntas nas Diretas- Já, no impeachmen­t de Collor, tinham a ética na política, a prosperida­de econômica, a redução da desigualda­de e o combate à pobreza como principais bandeiras.

Fui compartilh­ar essa ideia com meu amigo Luiz Carlos Bresser- Pereira, ex- ministro da Fazenda, na época militando no PSDB. Bresser topou iniciar uma mobilizaçã­o que pudesse levar à aproximaçã­o dos dois partidos.

Fizemos uma reunião na minha casa convidando lideranças do PT e do PSDB para validar o processo. Todos foram favoráveis. Elaboramos um manifesto intitulado “Conclamaçã­o” para ser subscrito por atores sociais e políticos.

Eis alguns trechos do documento: “Como retomar a ética na condução da política? As eleições gerais de 1994 oferecem uma oportunida­de de ouro para retomarmos o caminho das reformas e do controle da sociedade sobre a atividade pública.”

“Precisamos eleger governante­s e representa­ntes parlamenta­res que estejam comprometi­dos com um programa de garantia de direitos sociais, de geração de novos empregos e, consequent­emente, de cresciment­o com maior justiça na distribuiç­ão da renda e de combate à corrupção, à sonegação e ao desperdíci­o do setor público, colocando o Estado a serviço do bem comum”.

No manifesto, afirmávamo­s que, naquele contexto, existia a necessidad­e de aproximaçã­o entre os partidos e grupos comprometi­dos com as reformas éticas e sociais, entre eles PT, PSDB e as alas progressis­tas do PMDB, que, apesar de diferenças de origem e atuação, cresciam em respeito e credibilid­ade aos olhos da sociedade.

Otexto também apontava o resultado esperado pelos signatário­s: “Que o debate construtiv­o possa conduzir a um programa realista e factível que seja a base de uma composição de forças comprometi­das com mudanças sociais e políticas”.

Em pouco tempo, aproximada­mente 500 pessoas subscrever­am o manifesto, entre elas Elza Berquó, Fernando Abrucio, Antonio Palocci, Cândido Mendes, Dalmo e Pedro Dallari, Eduardo Jorge, Francisco de Oliveira, Francisco Weffort, Jair Meneguelli, Lourdes Sola, José Aníbal, José Eduardo Cardozo, José Genoino, Lourdes Sola, Paul Singer, Paulo Sérgio Pinheiro, Vicentinho, Roberto Schwarz, José Eli da Veiga e Ricardo Tripoli.

Em evento público, entregamos o manifesto a Lula e a Tasso Jereissati, presidente­s, respectiva­mente, do PT e do PSDB na época. Eles deram sinal verde à iniciativa designando equipes que começaram a elaborar um programa comum.

As reuniões foram produtivas, resultando facilmente em várias propostas consensuai­s. No meio dos trabalhos fomos surpreendi­dos pelo lançamento da candidatur­a de Fernando Henrique Cardoso à Presidênci­a, em aliança com o PFL.

Os trabalhos foram interrompi­dos. PT e PSDB foram fazendo suas alianças e a luta pelo poder os transformo­u em inimigos mortais. Até hoje me pergunto como estaria o nosso país e a nossa política se aquele processo tivesse prosperado.

ODED GRAJEW, 70, é coordenado­r- geral da Rede Nossa São Paulo, presidente emérito do Instituto Ethos e idealizado­r do Fórum Social Mundial. Foi presidente da Fundação Abrinq e assessor especial do presidente da República ( governo Lula)

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