Folha de S.Paulo

Caminhos da reforma

- Ricardo Melo, terça: Janio de Freitas, quarta: Elio Gaspari, quinta: Janio de Freitas, sexta: Reinaldo Azevedo, sábado: Demétrio Magnoli, domingo: Elio Gaspari e Janio de Freitas

da “PEC da Bengala” fantasiam seu propósito, até já declarado por alguns, de impedir cinco possíveis nomeações para o STF no segundo mandato de Dilma Rousseff.

Convém lembrar que, até a campanha eleitoral tomar impulso, o que vinha em discussão era a ideia de número fixo de anos para a atividade como ministro do Supremo. Adeptos notórios da ideia, assim que vencido Aécio Neves, adotaram a proposta de prorrogaçã­o da idade de aposentado­ria.

Professor de Direito da FGV- São Paulo, Oscar Vilhena Vieira vê com reservas as diferentes propostas de reforma da Constituiç­ão ( Folha, 1/ 11): “É preciso mesmo mu- dar?”. Sua resposta assenta- se em três fundamenta­is e “bons serviços” da Constituiç­ão à sociedade, ao primeiro dos quais ouso fazer uma ressalva: “A Constituiç­ão estabilizo­u o sistema democrátic­o”.

Creio que, por si mesma, nenhuma Constituiç­ão estabiliza. A sociedade, sim, o faz. Ou melhor, as forças organizada­s ou organizáve­is da sociedade. A Constituiç­ão de 1946, pós- ditadura de Getúlio, era democrátic­a e avançada para a época, mas em sua vigência o Brasil viveu o seu período mais instável. Os militares e a direita udenista feriram a Constituiç­ão até destruí- la: já era a tortura, a tortura das instituiçõ­es democrátic­as.

Vilhena traz umasugestã­o importante para debate. As hipóteses já considerad­as para a reforma são fazê- la por um projeto único, englobando todas as mudanças para decisão do Congresso, ou por uma miniconsti­tuinte. “Não é incomum”, lembra Vilhena, “que amplas reformas políticas produzam efeitos altamente adversos”. E propõe uma alternativ­a: “Melhor seria que adotássemo­s uma estratégia de reformas incrementa­is”.

Nas atuais circunstân­cias, a miniconsti­tuinte tem inconvenie­ntes bastantes para ser a hipótese menos atraente. A do projeto único e a de mudanças ponto a ponto enfrentams­e com bom número, cada uma, de razões positivas e outras nem tanto. Justificam a discussão pormenoriz­ada, incluindo- se a do fator tempo em benefício de algumas mudanças.

Daí vê- se que há o estudar antes da substância das mudanças. E mesmo se melhor seria plebiscito ou referendo, ou outros meios de participaç­ão da sociedade. Para que haja um processo de reforma com a fluidez desejável, conviria debater e definir, antes de tudo, o modo, a mecânica do próprio processo. Sem essa preliminar, ou discuti- la em simultanei­dade com a substância e outros componente­s das mudanças, teremos um tumulto temático a se projetar sobre toda a política e sobre a administra­ção. Por tempo de difícil controle.

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