Antes que sejamos México
tuído pelas explicações oficiais e/ ou pelo julgamento e condenação dos responsáveis pelo genocídio.
Por isso, tomei um choque enorme ao ler que, no México deste 2014, o grito se repetiu. “Vivos se los llevaron, vivos los queremos”, entoaram parentes e amigos dos 43 estudantes sequestrados em setembro e desaparecidos desde então.
O dramático nessa história é que, em vez de vivos, os parentes dos desaparecidos ouviram a informação oficial de que provavelmente vão recebê- los na forma de cinzas encontradas em sacos num rio.
Igualmente dramático é que o Brasil parece prestar pouca atenção a um episódio limite para a democracia mexicana, como se o Brasil fosse um paraíso de segurança e não houvesse, cá como lá, um conluio entre parte das forças repressivas e o narcotráfico.
Pondere você mesmo, leitor, se não vale para o Brasil, ao menos parcialmente, o que escreveu Enrique Krauze, intelectual mexicano de referência, sobre seu país para o “El País” desta segunda ( 10):
“O México requer um sistema de segurança e de justiça que proteja o bem mais precioso, a vida humana. A incessante maré do crime não só deve deter- se, deve retroceder pela ação legítima da lei. Cada dia que passa, o cidadão — decepcionado de todos os partidos, os políticos e a política— afunda ainda mais no desânimo e no desespero”.
Pondere também se não vale igualmente o apelo do cientista social Rubén Aguilar Valenzuela, no site Infolatam:
“No México moderno e inclusivo que todas e todos desejamos, é preciso superar a debilidade estrutural do sistema de segurança e de justiça. É uma obrigação irrenunciável dos três níveis de governo e também da sociedade”.
Não lembra os debates da campanha eleitoral para presidente, em que tanto Dilma Rousseff como Aécio Neves prometeram envolver o governo central em uma área hoje entregue mais aos Estados, claramente impotentes para conter “a incessante maré do crime”?
É preciso cobrar insistentemente a promessa, sob pena de o Brasil, se tudo continuar como está, cair no estado assim definido ( falando do México) pelo colunista Antonio Navalón (“El País”):
“O pacto sinistro entre corrupção política e crime organizado é mortal para qualquer país”. crossi@ uol. com. br