Folha de S.Paulo

Antes que sejamos México

- Segunda: Rubens Ricupero, terça: Clóvis Rossi, quarta: Matias Spektor, quinta: Clóvis Rossi, sexta: Marcos Troyjo, sábado: Alexandre Vidal Porto, domingo: Clóvis Rossi

tuído pelas explicaçõe­s oficiais e/ ou pelo julgamento e condenação dos responsáve­is pelo genocídio.

Por isso, tomei um choque enorme ao ler que, no México deste 2014, o grito se repetiu. “Vivos se los llevaron, vivos los queremos”, entoaram parentes e amigos dos 43 estudantes sequestrad­os em setembro e desapareci­dos desde então.

O dramático nessa história é que, em vez de vivos, os parentes dos desapareci­dos ouviram a informação oficial de que provavelme­nte vão recebê- los na forma de cinzas encontrada­s em sacos num rio.

Igualmente dramático é que o Brasil parece prestar pouca atenção a um episódio limite para a democracia mexicana, como se o Brasil fosse um paraíso de segurança e não houvesse, cá como lá, um conluio entre parte das forças repressiva­s e o narcotráfi­co.

Pondere você mesmo, leitor, se não vale para o Brasil, ao menos parcialmen­te, o que escreveu Enrique Krauze, intelectua­l mexicano de referência, sobre seu país para o “El País” desta segunda ( 10):

“O México requer um sistema de segurança e de justiça que proteja o bem mais precioso, a vida humana. A incessante maré do crime não só deve deter- se, deve retroceder pela ação legítima da lei. Cada dia que passa, o cidadão — decepciona­do de todos os partidos, os políticos e a política— afunda ainda mais no desânimo e no desespero”.

Pondere também se não vale igualmente o apelo do cientista social Rubén Aguilar Valenzuela, no site Infolatam:

“No México moderno e inclusivo que todas e todos desejamos, é preciso superar a debilidade estrutural do sistema de segurança e de justiça. É uma obrigação irrenunciá­vel dos três níveis de governo e também da sociedade”.

Não lembra os debates da campanha eleitoral para presidente, em que tanto Dilma Rousseff como Aécio Neves prometeram envolver o governo central em uma área hoje entregue mais aos Estados, claramente impotentes para conter “a incessante maré do crime”?

É preciso cobrar insistente­mente a promessa, sob pena de o Brasil, se tudo continuar como está, cair no estado assim definido ( falando do México) pelo colunista Antonio Navalón (“El País”):

“O pacto sinistro entre corrupção política e crime organizado é mortal para qualquer país”. crossi@ uol. com. br

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