Folha de S.Paulo

G20 prepara ‘ PAC global’ para economia

Grupo planeja investimen­tos para reativar cresciment­o; Brasil deve se compromete­r a injetar US$ 49 bi até 2019

- CLÓVIS ROSSI

Meta do pacote, que vai além de infraestru­tura, é aumentar o avanço previsto para o PIB em dois pontos percentuai­s

O Brasil vai se compromete­r com seus parceiros no G20, o clubão das grandes economias do planeta, a investir cerca de US$ 49 bilhões ( R$ 125,6 bilhões) nos próximos cinco anos, fora as iniciativa já previstas nos PACs ( Programas de Aceleração do Cresciment­o).

É a contribuiç­ão brasileira para que se alcance a meta a ser fixada pela cúpula do G20 na Austrália, neste fim de semana, de fazer o mundo crescer em cinco anos dois pontos percentuai­s acima do que se previa até o fim de 2013.

Se a meta for de fato alcançada, a riqueza mundial engordará US$ 2 trilhões no período, o que equivale a pouco menos de toda a economia brasileira.

A decisão de criar essa espécie de PAC planetário foi tomada pelos ministros de Economia do G20 no início do ano e será certamente ratificada pelos chefes de governos que se reunirão a partir de sábado, 16, em Brisbane.

Para evitar que tudo fique na retórica, o G20 cobrou planos específico­s de ação dos países- membros, que serão consolidad­os em Brisbane.

Apareceram até agora mais de 900 iniciativa­s de investimen­tos, tendo o Brasil contribuíd­o com sete delas. São todos projetos posteriore­s aos PACs. Surgiram depois da cúpula anterior do G20, realizada em setembro de 2013.

Trata- se basicament­e de um pacote de logística e concessões de obras públicas. Mas envolve também programas já em andamento, como o “Super Simples”, de simpli- ficação tributária, ou o Pronatec ( ensino técnico).

Estes não estão quantifica­dos e, portanto, não fazem parte dos US$ 49 bilhões prometidos ao G20.

FMI E OCDE

O mecanismo global não ficará solto no espaço: será acompanhad­o pelo Fundo Monetário Internacio­nal e pela OCDE ( Organizaçã­o para a Cooperação e Desenvolvi- mento Econômico, grupo dos 34 países mais desenvolvi­dos de que o Brasil só não participa porque não quer).

O Brasil está, em todo o caso, na contramão do programa a ser lançado em Brisbane, porque, em vez de crescer mais, como pede o G20, está desacelera­ndo.

Mas, nas negociaçõe­s ao longo do ano para a cúpula de Brisbane, não houve críticas ao país, ao menos até on- de a Folha pôde apurar.

E não houve por umarazão negativa para o país, mas benéfica para os parceiros: o Brasil está apresentan­do deficit em conta- corrente, a que mede todas as transações com o exterior, na faixa de 3,7% de seu PIB ( Produto Interno Bruto, medida da produção econômica do país).

Significa que o Brasil está financiand­o o cresciment­o alheio. Logo, seus parceiros não podem reclamar.

Tampouco podem reclamar do baixo cresciment­o brasileiro porque é um fenômeno que afeta a maioria das economias do G20.

Tanto é assim que a meta de crescer dois pontos percentuai­s acima das previsões já foi reduzida, na mais recente reunião dos ministros de Economia: caiu para 1,8 ponto percentual.

As cerca de 900 iniciativa­s apresentad­as para compor essa espécie de PAC global não dão para mais que isso.

Mesmo assim, é uma meta ambiciosa: significa acrescenta­r 50%, no período de cinco anos, ao cresciment­o de 3,5% que o FMI prevê para 2014/ 2015 ( a expectativ­a é que, neste ano, a economia do mundo avance 3,3% e, no próximo, 3,8%).

É factível, nas atuais condições globais? O secretário­geral da OCDE, Ángel Gurría, depois de examinar as propostas acha que “é possível fazer o truque”.

Para torná- lo de fato possível, o G20 aprovará também a criação de um “Núcleo de Infraestru­tura Global”.

Será uma estrutura provisória destinada “a fechar a brecha de informação entre os setores público e privado emtermos de infraestru­tura”, define Joe Hockey, secretário australian­o do Tesouro.

Ou seja, trata- se de aproximar os investidor­es institucio­nais dos projetos que os governos listaram para alcançar a meta de crescer mais.

 ?? Dave Hunt- 8. nov. 14/ Efe ?? Vestidos de contadores e simulando uma praia em paraíso fiscal, manifestan­tes protestam contra o G20 em Brisbane
Dave Hunt- 8. nov. 14/ Efe Vestidos de contadores e simulando uma praia em paraíso fiscal, manifestan­tes protestam contra o G20 em Brisbane

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