Folha de S.Paulo

Sem remédio

- Segunda: Leão Serva; terça: Rosely Sayão; quarta: Francisco Daudt; quinta: Pasquale Cipro Neto; sexta: Tati Bernardi; sábado: Oscar Vilhena Vieira; domingo: Antonio Prata

estudo emdoisdias”, declarou umjovemque­estáusando­adroga, que pode ser comprada sem receita, de várias maneiras, inclusive na rede.

Mas é sobre o uso da Ritalina com crianças que quero refletir hoje.

O pai de um garoto de dez anos, depois de passar por psicólogos, professore­s particular­es, psiquiatra, etc., recebeu indicação médica para ouso da droga. Antes de dá- la ao filho, porém, decidiu procurar informaçõe­s e constatou que não há consenso médico em relação ao diagnóstic­o de TDAH, tampouco em relação ao tratamento. Percebeu que era uma escolha que ele mesmo deveria fazer. Reuniu, então, a família, incluindo o filho, para debater os problemas, as dificuldad­es e os caminhos possíveis.

Juntos, optaram pela não medicação e pela mudança de vários aspectos familiares na relação com o garoto. Um ano após a decisão, todos estão certos de que foi o melhor caminho para eles.

A mãe de uma menina de oito anos decidiu acatar a indicação médica e ministrar o remédio para a filha. Dois meses depois, sem orientação, suspendeu a medicação por não reconhecer mais a própria filha, segundo suas palavras.

Outra mãe, que trabalha muito e sempre recebia queixas da escola, passou a dar o remédio ao filho, com receita médica, e está feliz porque — também em suas palavras — não só o garoto passou a ir bem na escola como não dá mais tanto trabalho para ela em casa.

Temos escolhido quase sempre as soluções mais rápidas e fáceis. Por isso, muitas vezes famílias e médicos optam pelo uso do medicament­o. Essa é, portanto, uma questão social e não apenas médica.

Outra caracterís­tica de nosso tempo é a demanda por produtivid­ade, alto rendimento e atenção sempre focada. Se há uma droga que ajuda nesses quesitos, por que não usá- la? De novo, trata- se de uma caracterís­tica social que influencia fortemente as ciências médicas.

E o que dizer da falta de paciência dos adultos em relação às crianças, do excesso de pressão que tem recaído sobre elas e da pouca disponibil­idade dos pais para suportar as temporadas de preguiça, de baixo rendimento escolar e de variações de humor pelas quais, inevitavel­mente, elas passam?

E a escola, que em vez de tentar se reinventar, culpa alunos e suas famílias pela aprendizag­em insatisfat­ória ou por comportame­ntos que considera inadequado­s?

ARitalina não é o único tratamento para crianças com diagnóstic­o de TDAH. Há outros, mais trabalhoso­s e demorados, porém mais respeitoso­s com a infância, que merecem ser considerad­os.

Pensem nisso, caros pais!

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