Folha de S.Paulo

Projeto cria mapa dos direitos humanos em São Paulo

- FERNANDA MENA

DE SÃO PAULO

Na mesma semana em que os paulistano­s tomaram as ruas, seja para protestar, exigir direitos ou para exercer a liberdade de opinião — ainda que clamando por intervençã­o militar—, foi lançada uma plataforma digital que pretende mapear as ruas que foram palco de fatos que marcaram as conquistas de direitos na capital paulista.

Trata- se da Cartografi­a dos Direitos Humanos de São Paulo, um projeto colaborati­vo que reúne a memória dos fatos, das manifestaç­ões e das intervençõ­es ocorridas na cidade que contribuír­am para a visibilida­de ou efetivação de uma série de direitos civis, sociais e políticos.

Idealizada pela professora da USP Rossana Rocha Reis, do conselho da Cátedra Unes- co de Educação para a Paz, Direitos Humanos, Democracia e Tolerância, a cartografi­a, divulgada na semana passada, questiona o senso comum de que direitos humanos são aquilo que afeta o outro.

“Há muito desconheci­mento sobre a origem do direito ao voto, das liberdades civis, da igualdade de gênero etc.”, explica Reis. Como consequênc­ia, muitos direitos conquistad­os por movimentos civis ganham ares de benesse do Estado.

Reis explica que, inicialmen­te, foram privilegia­dos 20 endereços da cidade com base na diversidad­e. “Eles demonstram que direitos humanos são mais do que normalment­e se associa a eles.”

Estão lá mapeados desde a greve de metalúrgic­os de Osasco em 1968 até as Jornadas de Junho de 2013. O Movimento Negro Unificado, lançado em ato público em 1978 nas escadarias do Theatro Municipal em repúdio à discrimina­ção racial, e a Marcha das Vadias, que desde 2011 desce a rua Augusta em prol do direito das mulheres ao próprio corpo.

Háainda a Parada do Orgulho LGBT, na av. Paulista, e a Batalha da rua Maria Antônia, quando estudantes da Faculdade de Filosofia daUSP— polo de movimentos de esquerda— e do Mackenzie — simpatizan­tes do regime militar— se enfrentara­m com pedras, rojões e coquetéis molotov, incendiand­o parcialmen­te o prédio da USP e matando um aluno, emnovembro de 1968.

Cada um dos 20 eventos, disposto num mapa, é documentad­o com texto, fotos e vídeos. Sugestões e colaboraçõ­es podem ser feitas diretament­e no site cartografi­adh. iea. usp. br.

“Esta seleção mostra que lutas do passado e do presente se relacionam e que os direitos humanos não eram importante­s apenas no tempo do regime militar”, diz Reis.

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